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Artes Cênicas

Peça tem como objeto a figura materna, mas mãe em cena é coadjuvante

'Stabat Mater', de Janaina Leite, explora o limite entre o real e a representação

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Stabat Mater

  • Quando Sex. e sáb., às 21h. Dom., às 19h. Até 21/7
  • Onde Centro Cultural São Paulo - r. Vergueiro, 1.000, tel. (11) 3397-4002
  • Preço R$ 10 a R$ 20

“Stabat Mater”, de Janaina Leite, mergulha nas tendências contemporâneas do teatro que trabalham no limite entre o real e a representação, e que buscam estreitar a distância entre artista e obra.

A atriz leva sua vida ao palco, que divide com a sua mãe. Ali, evoca traumas enquanto reflete a respeito de como aqueles eventos estão entranhados em lógicas sociais doentias identificáveis na cultura de massa
e na religiosidade cristã.

A estética de performance do espetáculo trabalha em torno da expectativa de choque gerado pela invasão do real em cena. É algo que abalaria a contemplação tradicional do teatro e desbravaria horizontes de fruição estética.

A artista faz isso com radicalismo. Expõe memórias doloridas e consegue reativar a potência de procedimentos já reconhecíveis —e repetitivos— do teatro contemporâneo.

A força com que percorre tais caminhos faz reluzir suas contradições intrínsecas. A atmosfera individualista da peça revela seu avesso narcísico. 

Ainda que o espetáculo se chame “Stabat Mater” (em latim, estava a mãe) e que supostamente tenha como objeto a permanência materna, a mãe em cena é só uma presença periférica, figurante nos desígnios artísticos da filha.

Tudo aponta para Janaina Leite, que ocupa o centro do palco e faz toda a máquina teatral girar em torno de si. A artista se torna um grande totem, o eixo monumental ao redor do qual tudo gira.

Se, por um lado, há força neste autoexame radical, também há reiteração do hiperindividualismo contemporâneo. 

Além disso, conforme o espetáculo se desenvolve, vemos surgir certo êxtase por aquilo que parecia ser objeto da mais ferrenha crítica, como a indústria pornográfica, o cinema de terror trash, a mitologia religiosa. Tudo é emulado em cena com um vibrante interesse. Materiais improváveis são fundidos e se cria uma massa reluzente que oscila entre a crítica e o fascínio —um tipo de contradição clássica da cultura pós-moderna.

As radicais intenções analíticas da artista convivem com uma estranha forma de monumento à barbárie. Acreditando construir pontes para compreensão, “Stabat Mater” também fortalece as paredes de um labirinto.

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