Descrição de chapéu Flip

Atos marcam presença do jornalista Glenn Greenwald na Flip 2019

Em Paraty, enquanto alguns saudaram o jornalista, outros gritaram 'je suis Sergio Moro'

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Paraty (RJ)

O jornalista americano Glenn Greenwald foi saudado com ares de herói por uma multidão na margem esquerda do rio Perequê-Açu, em Paraty, nesta sexta-feira (12), ao som de uma versão hardcore de “Bella Ciao”. Greenwald chegou de lancha ao barco no qual participaria de um debate, como parte da programação da Flipei, casa parceira da Flip, por volta das 19h.

Do outro lado do rio, cerca de 60 pessoas protestavam contra a presença de Greenwald executando o hino nacional e soltando fogos de artifício. Eles saíram da praça do Chafariz, na entrada do centro histórico, e caminharam pelas ruas de pedra. De dentro das lojas e restaurantes, enfrentaram vaias e ofensas.

“Vamos fazer um barulhinho para mandar para o pessoal lá de trás?”, provocou a socióloga Sabrina Fernandes, escalada para mediar a mesa “Os Desafios do Jornalismo em Tempos de Lava Jato”. “A gente não vai ser inibido pelas ameaças dessa galera.”

O protesto, divulgado via grupos de WhatsApp, estava programado para acontecer no mesmo local que o debate, mas, de acordo com informações da organização da Flip, a polícia proibiu que eles atravessassem a ponte. Deste modo, o grupo se concentrou na praia de Terra Nova.

Durante a concentração, entre as 16h30 e 18h30, manifestantes vibravam a cada passagem de veículos equipados com bandeiras do Brasil. Alguns estavam identificados com camisetas do movimento Vem pra Rua.

Faixas com frases "Somos Todos Sérgio Moro", "Je Suis Sergio Moro" e "Fora Glenn Greenwald" também podiam ser vistas nas mãos de membros do protesto. Outros vestiam roupas nas cores verde e amarela, e alguns ostentavam camisetas com imagens do presidente Jair Bolsonaro. "Treme de medo ao ouvir o hino", gritavam.

Greenwald chega de lancha e ao som de 'Bella Ciao' ao barco no qual participaria de um debate - Eduardo Anizelli/Folhapress

Ao serem abordados pela reportagem, dois manifestantes se recusaram a falar. "A Folha de S.Paulo distorce tudo. Pode botar aí que eu vou matar esse americano, eu, cidadão paratiense. Vou meter uma bala nesse cara. Eu sei que você está gravando", ameaçou um deles.

Um grupo de cerca de 60 estudantes de passagem pela praça entoava gritos de "Lula livre", ouvindo em resposta cantos de "a nossa bandeira jamais será vermelha" e "deporta Glenn".

"Temos inteligência para resolver nossos problemas internos, não precisamos de ninguém de fora", bradou um manifestante ao microfone. "Já chegamos sendo hostilizados, mas não tem problema porque o Lula está preso, babaca", berrava outra.

Cerca de dez motos do Choque pararam para pedir informação sobre a localização da manifestação e da palestra. "Salve a Polícia Militar", saudou um manifestante, ao cumprimentar um oficial.

Na noite de quinta-feira (11), três membros da Cavalaria da Polícia Militar fluminense faziam patrulha no entorno da Flipei. Um dos cabos afirmou que o patrulhamento seguiria sem interrupção “até domingo à noite”, porém o local hoje amanheceu vazio.

Às 14h desta sexta, três oficiais do patrulhamento ambiental manobravam veículo próximo à beira do rio, enquanto outros dois subiam em um jet-ski da corporação. Segundo um dos policiais, a presença do destacamento não teria relação com a manifestação e seria rotina da Flip.

No mesmo horário, um caminhão com uma faixa com os dizeres “Indignação é coisa nobre! Fora de Paraty Glenn Greenwald” estava estacionado na entrada da cidade. Outra faixa idêntica foi disposta no portal de Paraty, mas em seguida retirada.

“Nessa conjuntura de polarização, é comum que esse tipo de manifestação despolitizada aconteça. As pessoas elegeram o The Intercept e o Glenn como inimigos simplesmente porque eles trouxeram à tona elementos e evidências de coisas que a maioria da esquerda já apontava”, avalia a mediadora Sabrina Fernandes.

“Isso significa que existe medo de conhecimento na sociedade. E é aí que mora a preocupação. Uma manifestação contra o Glenn é um sintoma desse medo de conhecimento. E, se eles têm medo, a gente tem que demonstrar coragem”, diz.

Participante da mesa junto com Greenwald, o sociólogo Sergio Amadeu garantiu que a programação do debate não vai se alterar. "Vamos fazer o debate como o planejado. Os neofascistas estão incomodados com a liberdade de imprensa e com o jornalismo investigativo. Vamos continuar defendendo a democracia", resumiu.

A economista Valeria Amorim, 58, moradora do Rio de Janeiro, veio à Flip pela primeira vez e acompanhava pela manhã algumas das mesas realizadas no mesmo barco. “Minha preocupação é virem com a disposição para criar tumulto. Isso é uma censura, uma atitude mesquinha e que nada tem a ver com o espírito da cidade”, comenta.

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