Descrição de chapéu Artes Cênicas

Relação entre uma mãe de luto e um jovem gay guia peça sobre ataque terrorista

Espetáculo 'A Golondrina' é baseado no ataque da boate Pulse, em 2016, nos EUA

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São Paulo

Golondrina significa andorinha em espanhol. A ave migra para longe no inverno, mas invariavelmente volta quando chega o verão. Ela inspira a canção-tema composta especialmente para um espetáculo. Na letra e na trama, conta-se uma história sobre esperar a volta de alguém.

“A Golondrina”, a peça, também tem texto espanhol, de Guillem Clua. Sua história traz dois personagens interligados por um evento, o ataque terrorista homofóbico que matou 49 pessoas na boate Pulse, em 2016, na Flórida. Dirigida por Gabriel Fontes Paiva, a montagem brasileira fica em cartaz no auditório do Masp até o dia 25 de agosto.

Premiado com o Off-West End, em 2017, e com o Max, neste ano, o texto pauta temas como a homofobia, a aceitação, o posicionamento político de uma minoria e a superação do luto, além de ensaiar sobre o que nos torna humanos.

De um lado, uma professora de técnica vocal exigente, conservadora e religiosa, que sofre a perda do filho, morto recentemente em um atentado a tiros. Do outro, um rapaz gay que quer ensaiar uma canção para uma homenagem fúnebre. Aos poucos, mentiras e segredos se revelam, mostrando que os dois têm uma forte conexão.

Indicada pela primeira vez ao prêmio Shell de melhor atriz pela atuação, Tania Bondezan encarna a matriarca sofredora que chora, se descabela e cai no chão, com um intenso trabalho de corpo.

Apesar da dor, Bondezan conta que a personagem Amélia (aliás, nome de sua mãe) não foi difícil de construir. As referências de que precisava estavam próximas, nas mulheres de sua família italiana.

Também energético, Luciano Andrey sustenta com ela o pingue-pongue tenso dos diálogos e confrontos, por cerca de duas horas. É ele quem traz a maior parte dos alívios cômicos, que vão rareando no decorrer da peça.

Um cuidado tomado, tanto pelos atores, quanto pela direção, foi trazer personagens que não caíssem em maniqueísmos. “A gente não quis tomar partido de nada, não quis trazer personagens estereotipados”, diz Paiva, o diretor.

Mesmo assim, o texto não escapa de alguns clichês. “Quando era pequeno, só brincava com as meninas e dizia que preferia cantar no coral a jogar futebol”, diz um trecho em referência ao personagem homossexual morto.

Para a atriz, entretanto, a receptividade do público prova que o espetáculo faz refletir. “Um dia um jovem veio, me abraçou e disse, ‘olha, o ponto de vista do rapaz eu conhecia, porque era o meu, mas o da mãe eu estou conhecendo hoje’”, conta.

É esse tipo de reação que Paiva também espera do público. Para ele, apesar dos anos transcorridos desde o atentado, a discussão presente no espetáculo permanece atual.

“O momento ressalta ainda mais a necessidade e a urgência desse texto. Acho que a gente conseguiu avançar muito em algumas causas das minorias. Talvez um pouco antes, esse texto pareceria antigo perante as vitórias que a gente teve. Mas os próprios avanços geraram uma reação, então ele passa a ser mais atual ainda”, comenta.

Até hoje a peça continua sendo encenada na Espanha, onde estreou pela primeira vez. Lá, quem dá vida à protagonista é Carmen Maura, atriz muito conhecida do público de cinema por suas parcerias com Pedro Almodóvar, em títulos como “Volver” (2006), pelo qual foi premiada em Cannes.

Por vídeo, ela desejou sorte à colega brasileira, mas as duas ainda não conhecem o trabalho uma da outra.

A Golondrina

  • Quando Sex. e sáb.: 21h. Dom.: 19h. Até 25/8
  • Onde Masp - auditório - R. Paulista, 1.578, Bela Vista, tel. 3149-5959. 374 lugares
  • Preço Ingr.: R$ 60
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