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Cinema

Sucesso na França, 'Primeiro Ano' vale como bom passatempo

Filme completa trilogia do diretor Thomas Lilti sobre médicos

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Primeiro Ano (Première année)

  • Elenco Vincent Lacoste, William Lebghil, Michel Lerousseau
  • Produção França, 2018
  • Direção Thomas Lilti

Ao encerrar o balanço de 2018, o Centre National du Cinéma, órgão regulador do cinema francês, comemorou: "é um ano histórico". Não bastassem três dos cinco filmes mais assistidos no país terem sido produções francesas, algumas obras autorais também ultrapassaram a marca de um milhão de espectadores. Entre os cineastas contemplados, um nome já recorrente: Thomas Lilti —agora com o seu novo longa, “Primeiro Ano”.

Ao espectador brasileiro, o nome do diretor talvez diga pouco. Seus dois filmes anteriores —“Hipócrates” (2014), “Insubstituível” (2016)— não conquistaram grande público, não encantaram a crítica brasileira e, sem grandes holofotes, perderam-se no contingente de longas europeus distribuídos em nosso país.

A um cinéfilo francês, porém, o nome de Lilti quiçá repercuta de outra maneira. Valorizado pela crítica —com passagem pelo Festival de Cannes—, abraçado pelos espectadores – com mais de três milhões de ingressos vendidos -, o realizador ainda tem a curiosidade biográfica de ser clínico geral e fazer da medicina o pano de fundo de suas obras cinematográficas.

Em “Hipócrates”, assistimos aos desafios éticos e operacionais de um residente em seu primeiro emprego. Em “Insubstituível”, os impasses e desafios de um médico experiente ao ser diagnosticado com câncer.

Encerrando a trilogia, “Primeiro Ano” volta ao início da jornada, concentrando-se em um cenário conhecido de muitos jovens brasileiros: o processo árduo e insalubre do vestibular de medicina. Quando a competitividade se instaura e as pressões sociais se multiplicam, a recente amizade entre os candidatos Antoine (Vincent Lacoste) e Benjamin (William Lebghil) é posta à prova.

Ainda que o breve retrospecto da carreira do francês inevitavelmente demonstre sua insistência no universo médico, a escolha costumeira não se explica pelo fascínio técnico da profissão: Lilti está mais preocupado com as relações humanas que a envolvem e os dilemas que suscita. De um lado, a frieza burocrática das instituições (hospital, universidade). De outro, os vínculos afetivos como contrapesos da balança.

Jargões clínicos, tecnicismos, nada disso está no vocabulário de “Primeiro Ano”. O que se tem aqui é um filme simpático, ancorado em momentos cômicos, em outros pretensamente emotivos, que, à medida que a narrativa avança, ganham contornos de tensão. Captada a atmosfera, envolva estes sentimentos em uma roupagem pop, de esporádico flerte com linguagem de videoclipe, e terá a noção mais ou menos fiel do que é —ou tem sido— o cinema de Thomas Lilti.

Toque de autor, predileção de estilo? O que alguns podem ler como marca também reverbera como repetição. Sem esforço, os adjetivos usados para descrever a nova obra aplicam-se às anteriores; assista a um dos filmes e terá uma amostra de todos.

Cópia menos refinada de "Hipócrates" e sem a sobriedade de "Insubstituível", "Primeiro Ano" abusa de sua dupla de atores cativantes para se esconder na própria falta de ambição. Analisado isoladamente, porém, salva-se como um agradável passatempo de domingo —daqueles que servem de justificativa para ir ao cinema, mudar de assunto e seguir a vida.

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