“O Mistério do Gato Chinês” é um daqueles blockbusters atuais em que nem mais um simples gato existe de verdade. O uso maciço de computação gráfica nos elementos, ações e cenários cria uma estética impalpável, que embriaga os olhos antes de terminar como bolha de sabão.
O veterano diretor Chen Kaige, que já foi uma das glórias do renascimento do cinema chinês nos anos 1980, toca o barco para contar uma história de fantasia que mescla “wu-xia” (artes marciais), terror e esplendor histórico.
Produtores japoneses e chineses financiam o projeto com ambição de superespetáculo. A mistura de fantástico com ação e luxo visual é uma das fórmulas mais populares e duradouras do cinema asiático.
Mas a releitura das tradições do gênero com tecnologias do presente consegue no máximo renovar a aparência.
Ambientada na dinastia Tang, entre os séculos 7º e 10, a trama dispara com a aparição de um gato preto que revela um tesouro e que serve de motor para uma história de maldição.
Um poeta e um monge budista seguem as pegadas do felino e descobrem que ele é a alma penada de uma formosa rainha enterrada viva para escapar de uma revolução. Para manter o público atento, o bichano salta, envenena, arranca olhos e mata numa orgia de vinganças.
O roteiro não passa de um fiapo que alinhava as andanças da dupla de investigadores em diferentes épocas. O fundo histórico só serve para organizar o fluxo de cenários e figurinos exuberantes num ritmo que visa saturar os sentidos. Quem se extasia com o zoológico virtual de “O Rei Leão” vai gargalhar do gato de araque, que parece ter saído de um computador pirata.
Chen Kaige assume a tarefa de preparar o chop suey. Sua conversão ao cinema oficial, contudo, apagou a beleza melancólica dos seus primeiros e mais sinceros trabalhos. O que sobrou é só orientalismo, um tipo de folclore embalado em cetim, decorado com estampas de figuras milenares e com sabor de comida de delivery.
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