Adriana Esteves recebe troféu e tem branco no palco: 'Por que filme mesmo ganhei?'

Plateia aplaudiu atriz, enquanto alguém do público gritou 'Benzinho!'; longa foi o vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro

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São Paulo

​O “Oscar brasileiro” —ou o mais próximo que temos da premiação da Academia de Hollywood— desembarcou em São Paulo numa das noites mais frias do ano. Depois de quase duas décadas sendo entregue no Rio de Janeiro ou Petrópolis (RJ), o Grande Prêmio Brasileiro agora vai viajar pelo país e escolheu a capital paulista como sua primeira escala.

Mas não ganhou muita eficiência por causa disso. Uma longa fila se formou em frente do Theatro Municipal, com senhoras de casaco de pele e senhores engravatados esperando ter seus nomes conferidos nas listas de convidados. Resultado: marcada para as 20h40, a cerimônia começou com quase uma hora de atraso.

Não foi um início divertido. Cinco discursos se encadearam: de Jorge Peregrino, o presidente da Academia Brasileira de Cinema, Laís Bodanzky, presidente da Spcine, Alê Youssef, secretário municipal da Cultura, Sérgio Sá Leitão, secretário estadual da Cultura, e Bruno Covas, prefeito de São Paulo. Todos louvando a primeira edição paulistana da premiação.

O espetáculo em si só começou depois do falatório. O tema deste ano era riquíssimo: a música do cinema nacional, que já teve trilhas por todos os nossos grandes compositores.

E a execução da ideia foi simples e engenhosa: o comando ficou a cargo de um trio de atores que também cantam, André Ramiro, Juliana Linhares e Rodrigo Pandolfo. Acompanhados por uma banda ao vivo, os três se revezavam em números musicais ilustrados por cenas de longas clássicos brasileiros, num telão que ocupava os três lados da caixa cênica do Municipal.

Mas é difícil manter o ritmo quando a própria Academia não colabora. Às já inúmeras categorias, mais três se juntaram em 2019: melhores séries independentes de ficção, de animação e documental. Parabéns aos envolvidos, mas por que programas de TV invadiram uma premiação de cinema?

Quase todas as categorias técnicas —fotografia, roteiro, montagem—  também são divididas entre obras de ficção e documentários. Novamente: muito justo para os agraciados, mas maçante para o espectador.

Some-se a isso os infinitos discursos carregados de tons políticos, e a coisa começa a ficar arrastada. Pelo menos, as apresentações de Ney Matogrosso, Ayrton Montarroyos e as quatro atrizes de “Antônia” (2006) —Cindy Mendes, Leilah Moreno, Negra Li e Quelynah, reunidas para a canção-tema do filme— deram um toque a mais de glamour.

Mas a única gafe engraçada foi a de Adriana Esteves, que, ao receber o troféu de atriz coadjuvante por “Benzinho”, teve um breve lapso mental no palco, e admitiu não saber por qual filme estava sendo premiada —ela também estava indicada por “Canastra Suja”, como atriz principal. "Por que filme mesmo eu ganhei esse prêmio?", questionou. A plateia riu e a aplaudiu. Alguém no público gritou: "Benzinho!".

Emoção para valer, só na homenagem a Zezé Motta, que teve a atriz cantando a capela como agradecimento. Mas, a essa altura, já era madrugada, e o Municipal se esvaziava.

“Benzinho” foi o grande vencedor da noite. Ganhou melhor filme de ficção, melhor diretor (Gustavo Pizzi), melhor atriz (Karine Teles) e melhor roteiro original (Pizzi e Teles, que já foram marido e mulher), além da já citada atriz coadjuvante.

“O Grande Circo Místico”, de Cacá Diegues, teve um troféu a mais (que se chama Grande Otelo, e deveria ser o nome oficial da premiação): venceu nas categorias fotografia, figurino, direção de arte, maquiagem, efeitos visuais e roteiro adaptado.

Stepan Nercessian foi escolhido o melhor ator por "Chacrinha - O Velho Guerreiro" e Matheus Nachtergaele, o melhor ator coadjuvante, por "O Nome da Morte".

Ainda teve melhor filme de comédia (“Minha Vida em Marte”), melhor documentário (“Ex-Pajé”) e até um prêmio para o único inscrito na categoria longa em animação (“Peixonauta”). Com 33 categorias diferentes, todas incluídas na cerimônia transmitida ao vivo pelo Canal Brasil, o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro ainda não perdeu o clima de ação entre amigos.

Em um momento em que a indústria do audiovisual é ameaçada, um evento como este cresce em importância. Mas ainda falta pensar em quem vê e tornar a cerimônia mais ágil e interessante. Afinal, sem público não há cinema.

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