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Biografia conta história de guitarrista que virou o novo Belchior

Peixe fora d'água na Engenheiros do Hawaii, Augusto Licks desapareceu do mapa após divórcio da banda

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São Carlos

A formação clássica da banda Engenheiros do Hawaii chegou ao fim de modo esquisito e anticlimático em novembro de 1993, quando o guitarrista Augusto Licks foi convocado para uma reunião sem tema definido e sem a presença do líder do grupo, Humberto Gessinger

Depois de passar uma hora falando de amenidades com o outro membro do trio, o baterista Carlos Maltz, Licks ouviu do colega o seguinte: “Esta banda aqui acabou. O alemão [Gessinger] tá montando uma banda nova e me chamou para tocar”. “Então tá, a gente não tem mais o que conversar”, resignou-se o guitarrista, saindo da sala.

Esse divórcio musical desajeitado é, de certo modo, um microcosmo da passagem de Licks pelos Engenheiros, relatada, junto com o resto da carreira do músico gaúcho, na biografia intitulada “Contrapontos”.

As quase 50 entrevistas feitas pelos jornalistas Fabricio Mazocco e Silvia Remaso para compor o livro revelam que Augustinho, como era chamado, nunca deixou de ser um peixe fora d’água na banda, apesar de ter sido um dos principais responsáveis pela sonoridade de discos como “O Papa é Pop” e “Várias Variáveis”.

Com formação musical sofisticada que passava pelo jazz e pelo blues e uma colaboração de longa data com o também gaúcho Nei Lisboa, Licks acabou sendo convidado para entrar no grupo em 1987, quando os Engenheiros já tinham ganhado projeção nacional.

Embora respeitassem seu virtuosismo, os companheiros de banda continuaram a enxergá-lo, apesar dos anos de convívio e hits, como uma espécie de guitarrista convidado, que poderia ser dispensado quando quisessem.

“A diferença de gerações também fazia diferença, já que ele era uns seis, sete anos mais velhos que os outros”, explica Mazocco. “Tentamos mostrar que o clima pesado da banda, que sempre existiu, acabou fazendo a diferença. Nunca foram amigos, nunca foi uma coisa tranquila o relacionamento entre eles.”

Os coautores dividiram a narrativa do livro em Lado A (infância, juventude e começo da carreira, aos cuidados de Remaso) e Lado B (da trajetória nos Engenheiros aos dias de hoje, escrito por Mazocco). No Lado A, chama a atenção a densidade da cultura musical adquirida por Licks apesar da infância modesta em Montenegro (RS), numa família de imigrantes alemães com seis filhos.

“Ele recebeu a influência do irmão Rogério, que lhe ensinou os primeiros acordes, mas Augustinho já sabia afinar porque aprendeu observando. Tocar era fácil para ele”, afirma Remaso.

Na adolescência, o intercâmbio em Nova York ampliou seus horizontes musicais e lhe permitiu assistir a shows de artistas como Bob Dylan, Sonny Terry e Brownie McGhee, o que influenciaria o som folk de alguns de seus futuros discos.

Também desencadeou sua obsessão pela tecnologia musical, com a mistura de guitarras customizadas, teclados e até sintetizadores acionados com o pé que ele se pôs a empregar no estúdio e nos shows da banda.

“Acredito que, se não tivesse entrado na banda, seria diretor artístico ou produtor de alguma gravadora. Talvez ainda estivesse tocando com Nei Lisboa e outros artistas locais”, diz Remaso.

Contrapontos: Uma Biografia de Augusto Licks

  • Preço R$ 59,90 (320 págs.)
  • Autoria Fabricio Mazocco e Silvia Remaso
  • Editora Belas Letras
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