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Cineasta lança livro com fotos tiradas em quatro anos de viagem nos anos 1970

Murilo Salles resgatou 116 fotografias tiradas entre 1975 e 1979

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São Paulo

​​Se, por um lado, já aos 25 anos, Murilo Salles era diretor de fotografia conhecido e tinha acabado as filmagens de “Dona Flor e Seus Maridos”, de Bruno Barreto, que bateu recorde de público do cinema nacional, por outro, o ano era 1975. O Brasil vivia uma ditadura e ele conta que viu amigos sendo presos e exilados. “Apesar do sucesso [em sua carreira], vivíamos um baixo astral.” 

E foi este cenário —mas também porque “era jovem”, reforça— que motivou Salles a ir embora para o que ele chama de auto exílio. Entre 1976 e 1979, visitou amigos na Europa e ficou dois anos em Moçambique com Ruy Guerra, até retornar ao Brasil para as filmagens de "Cabaré Mineiro" (1980), em Minas Gerais.

Foi durante esse período entre as duas filmagens brasileiras que Salles capturou as fotos que hoje compõem o livro “Fotografias 1975-1979”, publicado pela editora Numa. 

São imagens no limite do foco, com marquises, reflexos, carros, borrão de pessoas que transmitem um sentimento de solidão, angústia e nostalgia de um voyeur que caminha pelas ruas sem direção definida.

“Eu sentia uma vontade visceral de fotografar, tinha uma angústia dentro de mim”. E, em tom de brincadeira, acrescenta: “Também não tinha nada para fazer”.

Salles reforça que o tema do livro é a própria manifestação fotográfica. “É sobre a cor, o quadro, a luz, não as pessoas. Eu queria aprisionar e imitar o movimento, tão natural do cinema”, diz. 

Mas entre as linhas e as sombras, há também alguns retratos, com poses e olhares mais intimistas de quem sabe que está sendo fotografado. “Pode parece careta, talvez até seja, mas acho que eu roubo alguma coisa de uma pessoa que fotografo sem ela perceber.”

A grande descoberta da viagem, no entanto, foi Rothko e Malevitch.  “No Brasil, nos anos 1960, falávamos de impressionismo, Matisse e Picasso. Fiquei fascinado quando vi pela primeira vez [trabalhos dos artistas]”, diz. No livro, há sequências de fotografias quase monocromáticas de azul, amarelo ou preto, inspirados nos trabalhos dos pintores. “O cinema era cor então naturalmente para mim a fotografia também tinha que ser.”

Além das 116 fotografias, o livro conta ainda com textos do historiador visual Mauricio Lissovsky e do próprio cineasta. Salles conta que sua mãe teve um papel fundamental na sua ligação com a arte e a fotografia. "Tinha o fetiche com a câmera e me incentivava”, conta. Ela era professora de história da arte e, quando Salles ainda era adolescente, pedia que ele fotografasse livros de arte para projetar em sala de aula. 

Além de professora, também pintava. “Tinha um talento impressionante, mas era uma pintora frustrada, nunca expôs, vivia para o lar. Talvez seja esse parte do motivo pelo qual eu guardei essas fotos por tanto tempo.” 

O material ficou guardado por anos em uma caixa e pegou mofo. Durante uma mudança, se deparou com as imagens e chamou uma amiga designer que o ajudou com a seleção das fotos e fez o projeto gráfico do livro. A mãe nunca chegou a ver o projeto finalizado. “Acho que teria ficado orgulhosa.”  

E o cinema, claro, continua presente. Salles pretende lançar ainda em 2019 um documentário sobre oito personagens que vivem no entorno da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro e também já está começando um novo longa sobre a viagem que levou Mário de Andrade a escrever "Macunaíma".

Fotografias 1975-1979

  • Preço R$ 95 (172 págs.)
  • Autor Murilo Salles
  • Editora Ed. Numa
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