Demissão de Dony De Nuccio por razões éticas faz Globo alertar seus jornalistas

Apresentador do Jornal Hoje deixou a emissora por causa de contratos milionários com o Bradesco

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O jornalista Dony De Nuccio - Reprodução/Instagram
São Paulo

​​

Quando pediu demissão do Jornal Hoje, que apresentava havia dois anos, Dony De Nuccio deu nesta quinta-feira um fim precoce a uma das carreiras mais promissoras dentro do jornalismo da TV Globo. Ele deixa a bancada por infringir um código de ética da emissora. 

Segundo revelou o site Notícias da TV, o jornalista, em dois anos, firmou uma série de contratos com o banco Bradesco que superavam a casa dos R$ 7 milhões. O site publicou também uma troca de emails entre o apresentador e a instituição financeira nos quais ele negociava valores que, em três anos, chegariam a R$ 60 milhões. 

De Nuccio não estava sozinho, porém, o que agrava esse cenário. Depois que seus contratos milionários se tornaram públicos, outros casos foram identificados dentro da maior emissora do país. 

Renata Vasconcellos, apresentadora do Jornal Nacional, e Rodrigo Bocardi, do Bom Dia São Paulo, estão na lista dos que participaram de produção de conteúdo para o Bradesco. Vasconcellos, segundo nota da Globo, que  confirma à reportagem uma informação revelada pela revista Veja, gravou um vídeo interno para o banco. 

A âncora diz que o serviço ocorreu “há oito ou dez anos”, segundo a nota. Bocardi foi pago por uma série de nove palestras para funcionários, realizadas há dois anos.

“A direção de Jornalismo da Globo foi procurada por alguns de seus jornalistas, que relataram que foram contratados por terceiros para participação em eventos institucionais gravados em vídeo, mas sempre com proibição de que as imagens fossem veiculadas ao público externo ou a clientes”, diz uma nota da assessoria de imprensa do canal. 

“Em alguns casos, a participação se deu com autorização da Globo por não ferir as políticas atuais da empresa. Em outros casos, a participação foi inadequada, mas sem má-fé”, acrescenta o texto.

De acordo com a Globo, os profissionais que reportaram os contratos informaram que não possuem empresas prestadoras de serviços de marketing, assessoria de imprensa ou comunicação empresarial.

Esse era o caso de De Nuccio. Para receber os valores, que somaram R$ 7,23 milhões, ele emitiu notas fiscais entre julho de 2017 e junho deste ano, por meio da empresa Prime Talk Produções e Assessoria Ltda., da qual é um dos sócios. Os documentos também foram publicados pelo Notícias da TV.

O jornalista tinha história na Globo e um futuro considerado promissor. Após deixar carreira no mercado financeiro em 2011, assumiu a edição do Jornal das 10, da GloboNews. Meses depois, foi destacado para apresentar o programa Conta Corrente e GloboNews Internacional. 

Atualmente, também integrava o time de apresentadores que se revezam na bancada do Jornal Nacional. 

Em carta que mandou para Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo, De Nuccio afirma que, nas últimas semanas, se viu “mergulhado em uma infindável onda de ataques, com a vida dentro e fora da Globo vasculhada e revirada, sigilos fiscais violados, endereços expostos, trabalhos de exclusiva veiculação interna publicados e até emails privados hackeados”.

Na mesma mensagem, ele fala em “contínua campanha” para destruir sua reputação. “Não faz bem nem a mim, nem à minha família e nem à emissora. Não é justo com nenhum de nós. Por esse motivo, embora com aperto no coração, solicito meu afastamento do telejornalismo”, completa. 

“Não tinha conhecimento de que os tipos de serviços prestados pela empresa à qual estava ligado contrariavam normas da Globo. Reitero que minha função não era negociar valores com clientes, mas sim trabalhar na concepção dos projetos e em seu conteúdo”, disse o jornalista.

Os contratos com o Bradesco previam a participação de De Nuccio em eventos institucionais, por meio de vídeos, road shows telepresenciais e palestras. A empresa pela qual ele recebia do banco foi aberta em março de 2017 em sociedade com o economista Samy Dana, que participava de vários programas do Grupo Globo e que foi dispensado na semana passada. 

De acordo com a reportagem do Notícias da TV, a empresa de De Nuccio ficava próxima aos estúdios da Globo, na zona sul paulistana, e ao menos 30 profissionais trabalhavam nela para produção de conteúdo para o Bradesco —vários deles, segundo o site, também eram funcionários da Globo.  

Kamel escreveu a De Nuccio em resposta à sua carta de demissão. “Entendo que é absolutamente sincero quando afirma que não agiu com dolo, e esta carta é uma prova eloquente disto. Nossa longa conversa de hoje cedo permitiu que eu entendesse as suas motivações e você entendesse as razões da Globo.”

A Globo, por meio de sua assessoria de imprensa, diz que, ciente de que persistem em sua equipe de jornalistas dúvidas sobre como agir diante de convites similares, divulgará comunicado reiterando o que é proibido ou não —“em detalhes, levando em conta a era digital em que vivemos”.

O pedido de demissão de De Nuccio acontece pouco depois de um outro caso polêmico dentro da equipe de jornalismo da emissora. 

Há um mês, o repórter esportivo Mauro Naves foi demitido por ter passado o contato do pai de Neymar a José Edgard Bueno, advogado de Najila Trindade, que dizia ter sido agredida e estuprada pelo astro do Paris Saint-Germain. 

Neymar negou o estupro e, nesta semana, inquérito da Polícia Civil também concluiu que o jogador não cometeu o crime. A denúncia de Trindade ocorreu em maio.

A Globo avaliou que o jornalista interferiu no caso, porque teria acesso a uma reunião exclusiva entre as partes, o que explica a decisão do afastamento do repórter, que tinha 31 anos de casa.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.