Estava ansiosa para conhecer a Bahia, diz autora em feira literária de Salvador

Finalista do Booker Prize 2019, a nigeriana Oyinkan Braithwaite participa da Flipelô; festa vai até domingo

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Salvador

Formada em escrita criativa pela Kingston University de Londres, a nigeriana Oyinkan Braithwaite, 31, começou a escrever o que sonhava ser o livro da sua vida, que a tornaria uma autora conhecida e respeitada, mas percebeu que a empreitada era mais difícil do que parecia. Por isso, resolveu parar e escrever outro livro apenas como exercício.

O resultado da experiência é “Minha Irmã, a Serial Killer”, vencedor do LA Times Award 2019 na categoria thriller criminal e finalista do Booker Prize 2019.

Debate com a escritora nigeriana Oyinkan Braithwaite na Flipelô, em Salvador - Antônio Muniz

“É assustador em muitos momentos, não estava esperando o sucesso. Não dava para prever, por isso mantenho os pés no chão”, contou Braithwaite, na noite desta sexta-feira (9), em debate na terceira edição da Flipelô —Festa Literária Internacional do Pelourinho.

A festa, que começou na quarta em Salvador com um espetáculo de abertura do cantor e poeta Arnaldo Antunes, vai até domingo (11), com a presença de nomes como Martinho da Vila, Ignácio de Loyola Brandão, Paloma Amado, Joselia Aguiar, Mabel Velloso e Edney Silvestre. Neste ano, a Flipelô homenageia o poeta baiano Castro Alves.

A participação de Braithwaite na Flipelô aconteceu no Teatro Sesc-Senac, a poucos metros da Casa Cultural da Nigéria, fechada há alguns anos, mas que ainda preserva sua fachada. “Eu ouvi que há uma grande cultura iorubá aqui, o que é fascinante. Era uma das razões para eu estar tão ansiosa em vir aqui, porque eu ouvi que tem muitas pessoas negras, muita gente de etnia iorubá da Nigéria. Nós temos deuses similares, os orixás.”

“Minha Irmã, a Serial Killer” conta a história das irmãs Korede, mais velha e amargurada, e Ayoola, mais nova, bonita e com a peculiar característica de assassinar seus namorados, contando com a ajuda providencial de Korede para limpar as cenas dos crimes.

Braithwaite teve a ideia para escrever o thriller depois de pesquisar sobre as viúvas-negras, aranhas fêmeas que são maiores do que os machos e que os devoram após o acasalamento. Outras referências para ela foram as séries "CSI" e "Law & Order".

Apesar dos crimes, o livro é bem-humorado e sarcástico, tratando de temas como feminismo, mídias sociais, família, corrupção e pressões da sociedade. “Segredos familiares são importantes na Nigéria”, explicou Braithwaite, que dedica o livro à sua família.

Dividindo o texto em capítulos bem curtos, cada um com sua própria mini-história, a escritora disse que dessa forma sentiu-se livre, o que a permitiu explorar diferentes estilos. “O desafio da tradução não foi com a linguagem, e sim com o ritmo dos capítulos curtos”, comentou Carolina Kuhn Facchin, tradutora do livro, lançado no Brasil pela editora Kapulana.

Sobre as inevitáveis comparações com sua conterrânea mais famosa, a escritora Chimamanda Adichie, a novata Braithwaite disse ao público que ainda não chegou ao patamar dela e que o estilo das duas é diferente. “Eu nem sequer participei da oficina literária de Chimamanda na Nigéria”, contou.

À Folha Braithwaite falou da abordagem sobre mídias sociais na literatura contemporânea. Sua personagem Ayoola, a irmã serial killer, costuma fazer postagens alegres no Instagram mesmo depois de matar os namorados.

“Eu não sabia se falar de mídias sociais iria prejudicar a qualidade do livro. Mas percebi que elas são interessantes porque a maneira como as pessoas se apresentam é como a irmã serial killer: o que ela aparenta por fora versus o que ela realmente é.”

A nigeriana já retornou aos trabalhos no livro que tentava escrever, embora ainda não saiba como concluí-lo. Mas até o fim deste ano, promete lançar dois contos inéditos.

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