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Cinema

Filme que mais parece DogTV agride quem espera mais do cinema

'Meu Amigo Enzo', longa-metragem típico da era do algoritmo, é tão agradável quanto esquecível

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Meu Amigo Enzo

  • Quando Estreia nesta quinta (8)
  • Classificação 10 anos
  • Elenco Kevin Costner (voz), Milo Ventimiglia, Amanda Seyfried
  • Produção EUA, 2019
  • Direção Simon Curtis

Em Hollywood, a regra geral manda que em períodos de crise criativa se apele para crianças e cães. Geralmente, é uma jogada certeira. Lembremos do sucesso de filmes como "Esqueceram de Mim", "Escola de Rock", "Beethoven" ou, voltando ainda mais no tempo, as séries "Lassie" e "Rin-tin-tin".

"Meu Amigo Enzo" tende a se beneficiar dessa estratégia. Dirigido pelo inglês Simon Curtis (de "Sete Dias com Marilyn"), o longa a amizade entre Denny Swift (Milo Ventimiglia), um aspirante a corredor de Fórmula 1, e seu inseparável cão Enzo, assim chamado em homenagem ao dono da Ferrari.

A curiosidade é que ouvimos tudo o que Enzo pensa, pela voz de Kevin Costner. Ouvimos, por exemplo, que Enzo sente ciúme da nova namorada de Denny, Eve (Amanda Seyfried). E teme a tirania do pai dela, vivido por Martin Donovan (ator fetiche de Hal Hartley nos anos 1990).

Como em todo filme de fórmula, temos uma boa dose de sentimentalismo, temperado com romance, um pouco de comédia, melodrama e o carisma canino de sempre, uma vez que Hollywood sempre usou cachorros como fator cômico em diversas cenas, tanto em comédias como em dramas.

O resultado é o esperado: um filme tão agradável (para quem se encanta com esse adorável animal) quanto esquecível, terno e levado em banho-maria, acadêmico e simplório em sua construção.

Por vezes, parece que estamos diante de um televisor que só transmite o canal pago DogTV. É o longa-metragem típico da era do algoritmo. Feito para ferir o menor número possível de sensibilidades. E com isso fere a sensibilidade de quem espera mais do cinema.

Após um evento triste ocorrido mais ou menos na metade do filme, surge um conflito causado pela crueldade do pai de Eve. Mas "Meu Amigo Enzo" é tão água com açúcar que o vilão é temporário e de meia pataca. Até a morte é suavizada pela ideia de reencarnação.

Aliás, o título original do filme é poético e metafórico: "A Arte de Correr na Chuva" é uma referência à habilidade de Denny em pistas molhadas (como Ayrton Senna, lembrado no roteiro) e à sua intuição de trocar de pneus um pouco antes da chuva chegar.

No Brasil, resolveram trocar pelo mais prosaico, e pouco imaginativo, acompanhando o título dado em países como México e Argentina. De certo modo, tem mais a ver com o que o filme é: nada ambicioso e dirigido no piloto automático.​

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