Eliza Capai assina roteiro e direção de “Espero a Tua (Re)Volta”, documentário sobre os movimentos estudantis no Brasil, entre 2013 e o ano passado.
O mito dos estudantes é sedutor. Sempre jovens, fortes, idealistas.
“Espero Tua (Re)Volta” observa, com devoção imensa, as minas, as monas e os jãos do nosso passado recente. Três estudantes são narradores: Marcela Jesus, Nayara Souza e Lucas “Konka” Penteado.
Como possuem estilos às vezes diferentes (e defendem, a qualquer custo, o direito à diferença), o filme aborda um ponto em comum: a pobreza econômica. Isso vira o ímã entre os protagonistas e os outros entrevistados.
A ação quase sempre vai para a rua, na apoteose do mídia-ativismo. O fotógrafo e videomaker Caio Castor, por exemplo, cedeu imagens que correspondem a um terço do filme. Isso pode passar despercebido, mas é importante para o conceito de autoria. Assinar roteiro e direção já foi o máximo de domínio criativo. Há quem prefira compartilhar, como uma colcha de retalhos.
O patrocínio da Globo News leva à inclusão de vários trechos de programas da TV Globo. Existe um jogo contraditório no filme, já que usa a chancela institucional de corporações criticadas exatamente pelos ativistas, sobretudo nos protestos de 2013 e no impeachment de Dilma Rousseff em 2016.
Por outro lado, a narração dos adolescentes parece estudada por Capai justamente para não parecer
estudada. Quando Konka faz “poetry slam”, no meio de uma praça, está bem mais autêntico do que no papel de explicador da história.
O recente “Eleições”, lançado neste ano por Alice Riff, também acompanha estudantes secundaristas da periferia, mas usa outra estratégia: não se apega a princípio, meio e fim. A trama cresce naturalmente, com a evolução das eleições do grêmio, que dão nome ao filme. Além disso, abraça a timidez, o
inconformismo, a aceitação.
“Espero Tua (Re)Volta” poderia ter feito um equilíbrio entre a vontade de empoderar e a necessidade de refletir.
Por breves momentos conseguiu. Numa bela cena, após as ocupações nas escolas paulistas, a ansiedade de Marcela Jesus é mostrada visualmente com imagens distorcidas do edifício Copan —o concreto de um prédio que diz muito sobre o mundo afetivo de São Paulo. Naquele momento, entendemos que a dor interna pode ser recriada. E nem sempre precisa ser gritada para ser ouvida.
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