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Televisão

Jornal Nacional sobrevive às mudanças tecnológicas, mas sem o peso de antes

Num mundo de telas, é uma anomalia o programa chegar a tanta gente ao mesmo tempo

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Na condição de primeiro programa criado para ser transmitido em rede nacional, o Jornal Nacional é a Transamazônica que deu certo. Deu certo para quem? Antes de tudo, para o regime militar, que viu frustradas em outras áreas as chances de unir o país.

No livro “Brasil em Tempo de TV” (Boitempo Editorial, 1996), Eugênio Bucci definiu o papel do JN no “projeto de integração nacional pretendido pela ditadura”, que só “alcançou êxito graças à televisão”. Em outras áreas, escreve Bucci, houve trapalhadas, “mas, na área das telecomunicações, o Estado militarizado conseguiu o que pretendia”. “Espetou antenas em todo o território brasileiro e ofereceu a infraestrutura para que o país fosse integrado via Embratel.”

Embora o seu êxito em audiência dependa fundamentalmente do andamento das duas novelas que fazem dele o recheio do sanduíche mais longevo do horário nobre, o JN é o embrião desse projeto que viria a se tornar a voz soberana nas telecomunicações no Brasil já a partir do ano seguinte, em 1970, com a Globo na liderança de audiência.

Até ali, todos os programas tinham exibições em mais de uma cidade brasileira por meio de cópias distribuídas pelas estações repetidoras da programação da Globo.

Bucci observa que a TV brasileira acrescentou elementos próprios em relação aos parâmetros no mundo todo. “Ela se pôs como o prolongamento do Estado autoritário, incumbindo-se do trabalho que ele, Estado, não poderia realizar sozinho. Uma boa representação dessa parceria pode ser encontrada no tom oficial que adquiriu o telejornalismo.”

Não que o JN tenha nascido de teoria conspiratória, mas o cenário propiciado por aquele que seria o noticiário de maior alcance do país animou o regime, que fez de tudo para colaborar com a emissora.

Do lado da Globo, havia uma equipe chefiada por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ávida por fazer uma TV de rede como o modelo que havia testemunhado nos Estados Unidos, “de costa a costa”. “O JN só foi possível com a inauguração da rede de micro-ondas da Embratel, então empresa estatal”, lembra Boni. 

Esse DNA custaria caro ao JN. Mais de três décadas se passaram até que o noticiário começasse a se livrar da fama de porta-voz do governo. Para tanto, pesou a troca de “rosto” do telejornal, quando Cid Moreira e Sérgio Chapelin deixaram a bancada, em 1996, cedendo a vez à era dos jornalistas, a começar por William Bonner e Lillian Witte Fibe.

Ainda que o JN não tenha mais o peso que já teve, seu alcance sobrevive com louvor às transformações trazidas pela tecnologia que fez nascer tantas telas e conexões.

Neste mês, na média de audiência diária, o JN alcançou 44.047.332 pessoas. São 4 milhões a mais que em agosto de 2001. Os dados são do Kantar Ibope.

No número de domicílios do Painel Nacional de TV, o PNT, que soma 15 regiões, são hoje 30 pontos, ante 39 em agosto de 2001, mas a plateia atual é maior porque 1 ponto (percentual de casas com TV) cresceu quase 60% em 18 anos.

Muita gente comparece ao sofá só para fazer do Jornal Nacional uma sala de espera para a novela. Muitos, no entanto, ainda precisam ouvir de Bonner as histórias que a internet já explorou o dia todo.

Num mundo de tantas telas, chegar a tanta gente ao mesmo tempo, sem necessariamente ser inédito, é quase uma anomalia.

Erramos: o texto foi alterado

A diferença de audiência diária deste mês para 2001 é de 4 milhões. O texto foi corrigido.

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