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Artes Cênicas

Peça tímida neutraliza drama de Martin Luther King Jr. e Malcolm X

'O Encontro' imagina reunião fictícia entre líderes da luta negra

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O Encontro - Malcolm X e Martin Luther King Jr.

  • Quando Qui. a sáb.: 21h. Dom.: 18h. Até 11/8
  • Onde Sesc Consolação - R. Dr. Vila Nova, 245
  • Preço R$ 12 a R$ 40

Dois dos maiores líderes negros do século 20 se encontram num quarto de hotel em 1965. Este é o mote ficcional sobre o qual se desenvolve a peça “O Encontro”, escrita há três décadas por Jeff Stetson.

De um lado, Martin Luther King Jr., prêmio Nobel da paz em 1964 por liderar enormes movimentos civis não violentos contra as formas de segregação racial nos Estados Unidos. De outro, Malcolm X, que defendeu o enfrentamento direto e, no final da vida, se aproximou de posições revolucionárias e chegou a ser uma inspiração para a formação dos Panteras Negras em 1966.

São figuras que exercem até hoje fascínio e magnetismo. Apesar disso, o assunto aparece na peça de forma frágil.

É um drama de um ato que se desenvolve numa estrutura estática de conversação e confinamento. Os dois personagens aparecem deslocados da efervescente vida pública e política que os fez ser quem foram. A peça toda é um longo diálogo privado.

A segregação, o racismo cotidiano, os métodos de luta ou a irradiação coletiva do discurso de dois dos maiores oradores da história não têm lugar na obra. Só a subjetividade de homens calejados pela luta social.

Neste ambiente claustrofóbico, as posições políticas do doutor King e de Malcolm X aparecem como pálidos estereótipos do que foram. Ainda assim, fragmentos de seus discursos se destacam no texto e fazem lembrar do contexto em que se inserem. Poderia ser material vivo para uma encenação inventiva.

Não é o que acontece na montagem dirigida por Issac Bernat. A encenação, bastante reverente ao texto, reproduz as suas fragilidades e não apresenta uma posição autoral a partir da obra. As conexões com a atualidade e com o Brasil, por exemplo, são apenas sugestões pouco exploradas que rondam o espetáculo.

Cenografia e figurinos ficam restritos à caracterização de época com sutis tentativas simbólicas. A iluminação ameaça movimentos inusitados com o uso de cores, mas pratica obviedades. 

As lindas canções que balizam a apresentação —composições da música negra americana das décadas de 1950 e 1960— soam como apenas uma imagem folclórica de outrora. Em poucas palavras, apesar do tema incendiário, a montagem é tímida e conservadora.

Em contrapartida, o elenco apresenta um surpreendente empenho e interesse pelas personagens, o que faz com que as suas posições ainda ressoem para além da paralisia da forma e da ingenuidade humanista que emoldura a obra. Em alguns momentos, a retórica vibrante dos papéis se defende da estrutura estética que a fragiliza.

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