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Pennebaker reinventou o documentário com jazz e olhar impressionista

Diretor que morreu neste sábado (3), aos 94 anos, foi um dos pioneiros do cinema direto

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O cantor Bob Dylan com o cineasta D. A. Pennebaker ao fundo em cena do documentário ‘Don’t Look Back’, de 1967 
O cantor Bob Dylan com o cineasta D. A. Pennebaker ao fundo em cena do documentário ‘Don’t Look Back’, de 1967 - Reprodução
Amir Labaki

Com a morte, aos 94 anos, no último sábado (3), de D.A. Pennebaker, nos despedimos do último dos pioneiros da maior revolução modernizadora do documentário a partir dos Estados Unidos —a escola do cinema direto. Conhecida por criar o método da “mosca na parede”, ela se baseou no desenvolvimento técnico de câmeras mais leves e com som sincronizado ao de gravadores portáteis, renovando a produção não ficcional com registros mais ágeis e intimistas.

Filho de fotógrafo, engenheiro de formação, Pennebaker formou o quarteto de iniciadores do movimento ao lado de Albert Maysles, Richard Leacock e Robert Drew, todos eles já mortos.

 

A especialização técnica dele e do veterano Leacock, exímios operadores de câmera e diretores de fotografia, foi essencial para a criação dos novos equipamentos, que teve em Drew o principal mentor.

A pintura foi a expressão artística inicial do jovem Pennebaker. Sua transição para o cinema aconteceu sob a tutela de um dos mestres do documentarismo nova-iorquino, Francis Thompson, que o contratou como um assistente faz-tudo. 

Seu documentário curto de estreia, “Daybreak Express”, de 1953, já apontava para seu estilo futuro —flagrantes urbanos de uma viagem de metrô de Nova York, editados sob a batuta da célebre gravação homônima de Duke Ellington.

Pennebaker foi um dos diretores de fotografia de “Primárias”, ou “Primary”, de 1960, o marco zero do 
cinema direto
, sob a direção de Drew. O filme retrata, com inédita proximidade, a campanha do jovem senador democrata John Fitzgerald Kennedy às eleições presidenciais dos Estados Unidos em 1960.

 Seu vínculo com a turma da Drew Associates, realizando sobretudo documentários para a TV americana, estendeu-se por cerca de três anos, resultando em títulos igualmente marcantes, como “Jane”, de 1962, e “The Chair”, de 1963.

Durante a década seguinte, dividindo uma produtora com Leacock, Pennebaker se estabeleceu como diretor solo e, sobretudo, como um divisor de águas nos documentários musicais. “Dont Look Back”, de 1967, talvez sua obra-prima, acompanha com inédito acesso os bastidores da turnê londrina de Bob Dylan em 1965.

As performances em palco de Jimi Hendrix e Janis Joplin, para ficar em dois exemplos, nunca foram captados com maior sensibilidade para detalhes do que nas filmagens de “Monterey Pop”, de 1968.

Sua câmera impressionista, somada à pegada jazzística da montagem, forjou um novo modelo para o gênero. Não surpreende, assim, que tenha rodado ainda filmes sobre John Lennon e Yoko Ono, em 1971, e transformado uma encomenda para uma espécie de videoclipe de David Bowie no longa-metragem “Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”, de 1973.

 A segunda parte de sua prolífica carreira se iniciou em 1976, ao estabelecer uma parceria com Chris Hegedus. Foi graças a ela que as filmagens de um encontro na Nova York de 1971 para discutir o movimento feminista, centrado no debate entre Germaine Greer e Norman Mailer, vieram à luz como “Town Bloody Hall”, de 1979.

Sem abrir mão de seu talento para documentários musicais (“Depeche Mode: 101”, de 1989), a tabelinha com Hegedus se expandiu em produções de mais amplo arco temático. Em quatro décadas, gravaram obras-primas sobre o controle das campanhas eleitorais por marqueteiros (“The War Room”, 1993), um concurso mundial de confeiteiros (“Kings of Pastry”, 2009) e a batalha de um advogado pelos direitos dos animais (“Unlocking the Cage”, 2016).

Numa de suas últimas entrevistas, para a revista Film Comment, sintetizou seu método. “Observe. Apenas observe. Não interprete, não explique.” E, dessa forma, nasceu o documentário contemporâneo.

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