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Romance mostra pesadelo racista em reformatório no sul dos EUA

Colson Whitehead se inspira em caso de escola onde jovens eram mortos e enterrados em cemitério clandestino

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São Paulo

Jim Crow era uma representação racista que se tornou clássica nos Estados Unidos --o comediante que o encarnava se vestia de trapos, pintava a cara de carvão e exibia uma versão estereotipada e ofensiva dos negros.

Quando vieram as leis da segregação racial no país --que duraram quase um século, de 1876 a 1965-- elas ganharam o apelido de leis Jim Crow, tornando-se um dos exemplos mais duros de racismo institucionalizado. Brancos e negros não podiam estudar nas mesmas escolas ou se sentar perto uns dos outros nos ônibus, entre outras medidas.

É nesse contexto que se passa "Reformatório Nickel", novo romance do escritor americano Colson Whitehead, que já ganhara um Pulitzer com seu livro anterior, "Underground Railroad".

O autor se inspirou na história real da Florida School For Boys, que existiu por mais de cem anos. Em 2012, enquanto antropólogos faziam uma pesquisa no local, foi encontrado um cemitério clandestino no terreno --e, ao mesmo tempo em que corpos não identificados brotavam da terra, voltava à superfície a história de violências e assassinatos cometidos pela instituição, um cipoal de horrores, sobretudo contra jovens negros mandados para lá.

Whitehead teve contato com essa história em 2014, mesmo ano em que o jovem Michael Brown foi morto pela polícia em Ferguson, disparando uma série de protestos na cidade e no país.

"Entrou indiretamente no romance. A história da escola parecia mais um caso de pessoas cometendo assassinatos e se safando. Às vezes é a polícia, às vezes é o superintendente de um reformatório. Havia muitos casos assim", diz Whitehead. "Mas não sou historiador nem jornalista. Escrevo ficção. É assim que lido com as coisas."

O argumento central do romance expressa os sonhos dos direitos civis massacrados pelo racismo institucional. O protagonista é um jovem encantado com os discursos de Martin Luther King que é enviado para o reformatório. Lá, ele fica amigo de um garoto que planeja fugir.

Com o livro anterior e este, Whitehead traça uma linha do tempo de horrores da história da América --que começa na escravidão, passa pelos anos 1960 e se conecta com os casos de hoje.

"Temos um presidente que é um supremacista branco e que usa uma retórica puramente racista. No mundo todo vemos despontar governos de direita que são homofóbicos, nacionalistas. Ter um presidente negro como Obama foi um progresso. Ter um presidente como Trump é uma lembrança de que muita gente é muito ruim."

Ao mesmo tempo em que, à direita, surgem governos conservadores, à esquerda despontam os movimentos identitários, que avançam para a literatura, defendendo romances com autores e personagens negros, por exemplo.

Também despontam críticos a dizer que a política identitária lança a esquerda numa guerra fratricida que, em último caso, permitiria a ascensão de um Donald Trump. Whitehead não gosta do debate nesses termos.

"Expor o racismo é fazer política identitária? Se o Trump diz coisas de supremacista branco, ninguém diz que ele está pregando o identitarismo, mas é claro que está. É um termo que parecem reservar a feministas e não brancos", diz o autor.

Reformatório Nickel

  • Preço 54,90 (240 págs.)
  • Autoria Colson Whitehead
  • Editora HarperCollins
  • Tradução Rogerio Galindo
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