SP-Foto chega ao fim com vendas engatadas e imagens inofensivas

Expectativa dos galeristas no último domingo era de fechar negócios após término da feira

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Sem a isenção de impostos que costuma escalar as vendas durante a SP-Arte, a expectativa dos galeristas no último domingo, ao final da feira SP-Foto, braço do evento comercial dedicado à fotografia, era a de fechar negócios maiores só depois de desmontarem os estandes.

Com 33 galerias, mesmo número que a edição passada, o evento reuniu peças para todos os gostos e bolsos. Os preços iam dos R$ 500 até os R$ 250 mil —este o valor de uma imagem de Sebastião Salgado no estande da galeria Mario Cohen. Nas casas mais consolidadas, a variação de preço era um pouco menos pronunciada, começando na faixa dos R$ 5.000 e chegando aos R$ 70 mil, em média.

A maior parte dos estandes informou ter vendido obras de valores baixos a médios nos cinco dias de feira.

“As coisas mais acessíveis saem mais rápido”, disse Carlos Dale, sócio da Almeida e Dale, que representa artistas históricos. Em sua primeira participação no evento, ele reuniu cliques do francês Jean Manzon numa expedição pela Amazônia dos anos 1950 e 1960 e retratos em preto e branco do paraense Luiz Braga, conhecido pelo uso da cor.

Segundo os marchands, o resultado também pode ser explicado pelo fato de que o evento acontece num shopping, onde o público tem perfil menos especializado.

Além disso, ao contrário de pinturas e esculturas, as fotografias raras vezes são únicas, o que permite mais calma nas negociações —em geral, as peças vendidas são impressões múltiplas numeradas.

Eles também argumentam que a duração estendida das negociações não é um mau sinal, mas consequência natural da maturação do mercado.

Mario Cohen lembra que, nas primeiras edições da feira, testemunhava muitas compras feitas por impulso, no calor do momento. Agora, diz, os colecionadores usam a ocasião como uma maneira de entrar em contato com o trabalho dos artistas.

Ele trouxe um clique inédito de Salgado para o evento, “Índia se Maquiando”, de 2016, parte de um livro a ser lançado daqui a dois anos. Não era a única fotografia a abordar temas relacionadas ao meio ambiente e a povos nativos ali.

Na Fortes, d’Aloia & Gabriel, por exemplo, a alemã Janaina Tschäpe misturava elementos de plástico a folhagens em sua série “New Botanica”. Já Caio Reisewitz, na Luciana Brito, retratou uma floresta ameaçada pela construção da usina de Belo Monte às margens do rio Xingu em Altamira, no Pará.

Apesar de o público ter visto em algumas obras associações com as queimadas recentes na Amazônia, os galeristas afirmaram que a recorrência do assunto no evento foi só uma coincidência. Juliana Cintra, da carioca Silvia Cintra + Box 4, disse que chegou a tirar do estande uma obra do mineiro Pedro Motta que mostrava uma planta em chamas, que despertou críticas de alguns dos passantes. "Evitamos fazer uma coisa muito midiática. Preferimos ser consistentes com o histórico do artista", justificou Cintra.

O público da feira não parece ser fã de imagens chocantes, aliás. Cohen afirma que decidiu trazer poucas imagens da série de Salgado sobre a mina de Serra Pelada, no Pará, que revela as duras condições de trabalho dos garimpeiros no final dos anos 1970. “As pessoas não querem imagens que as façam sofrer”, disse o galerista.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.