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Sucesso da Broadway, 'Pippin' ganha primeira montagem em São Paulo

Peça conta história de príncipe em jornada de autoconhecimento para falar de sociedade e política

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São Paulo

Das cortinas vermelhas do teatro Faap sai uma trupe comandada pela atriz Totia Meirelles. De cartola e terninho, a mestre de cerimônias deseja boas vindas ao público, dá ordens aos colegas de palco e explica que ali será encenada a história do filho de Carlos Magno, rei franco que redesenhou o mapa da Europa.

Neste teatro dentro de um teatro, música, arte circense e mágica são combinados para narrar “Pippin”, espetáculo americano que acaba de ganhar sua primeira montagem em São Paulo.

Sucesso na Broadway quando estreou, em 1972, o musical cumpriu temporada carioca no ano passado —mas em 1974 já havia dado as caras no Rio em montagem com Marília Pêra e Marco Nanini.

Originalmente dirigido e coreografado pelo lendário Bob Fosse, “Pippin” tem música e letra de Stephen Schwartz, que veio ao Brasil para incrementar e fazer pequenos acertos nesta versão, a pedido dos produtores Charles Möeller e Claudio Botelho. O primeiro também assina a direção da peça, enquanto o segundo a traduziu.

Rápido em se desvencilhar de suas origens históricas —somente os nomes de Carlos Magno e de seu filho passam incólumes—, o musical esconde sob seu verniz reluzente questionamentos ácidos.

Apesar da ambientação medieval, eles são perfeitamente aplicáveis à realidade dos Estados Unidos dos anos 1970 ou à do Brasil de hoje, mesmo com os 47 anos que separam as montagens, de acordo com seu criador. “Eu não acredito que os contextos sejam tão diferentes”, diz Schwartz à Folha. “Os anos 1970 foram de muita turbulência e nós claramente estamos vivendo em um mundo com muita turbulência e mudança. Nós vemos revolta tanto aqui quanto nos Estados Unidos, porque os jovens querem ter controle do seu futuro.”

Na trama, Pippin é um príncipe que não sabe bem o que quer da vida. Após largar a universidade, ele parte em uma jornada de autodescoberta, mas não parece se contentar com a realidade ou com as possibilidades de futuro.

A sensualidade latente do repertório de Bob Fosse —atualizada aqui pelo coreógrafo Alonso Barros— está presente nas entrelinhas que dialogam sobre religião, tirania, conhecimento e velhice. Em meio ao medievalismo, faz uma ponte com o presente, às vezes de forma não tão sutil.

“Quando um rei faz cortes no orçamento, a primeira coisa a morrer é a cultura”, diz Pippin depois de tentar ser artista. Em outra cena, o protagonista vivido por João Felipe Saldanha é tachado de “agitador comunista”.

O equilíbrio entre vazio existencial e humor, cutucadas políticas e aparente superficialidade, faz com que o espetáculo se aproxime de uma tragédia shakespeariana, revestida pela sensualidade e glamour de “Cabaret” ou “Chicago”.

“A visão artística de Bob [Fosse] mudou o espetáculo para sempre e, seja lá quem for montá-lo a partir de agora, jamais poderá se desvencilhar do seu ponto de vista para esta história”, diz Schwartz.
Mas a onipresença do legado de Fosse não impediu que, por aqui, “Pippin” ganhasse vida própria. Sonoridades de samba são incutidas à trilha sonora, enquanto o discurso político conversa com a realidade do Brasil. 

“Toda vez que alguém faz ‘Pippin’ é diferente, porque é um show flexível. Nós falamos da sociedade e da política brasileira”, explica Schwartz.

Também promete ser diferente uma futura versão cinematográfica para “Pippin”, há anos em desenvolvimento.

Os direitos para adaptar a trama haviam sido comprados pela The Weinstein Company, que encerrou suas atividades em julho de 2018 após uma série de escândalos sexuais envolvendo um de seus fundadores, Harvey Weinstein.

“Por enquanto não temos estúdio, mas pelo menos tivemos a sorte de conseguir os direitos de volta”, diz o compositor. “Mas o projeto ainda está em uma fase muito inicial.”

Responsável por outros fenômenos musicais que imprimiram sua marca na cultura pop, Schwartz tem sob sua alçada vários projetos cinematográficos que devem mantê-lo ocupado nos próximos anos.

Atualmente ele também trabalha em um aguardado filme de “Wicked”, peça que explora a mitologia de “O Mágico de Oz” e está em cartaz há quase 16 anos na Broadway.

Também responsável pelas letras da animação “O Corcunda de Notre Dame” (1996) e do live-action da Disney “Encantada” (2007), diz não saber sobre o futuro dos títulos, apesar de rumores indicarem que o primeiro deve ganhar uma versão com atores, enquanto o segundo, uma continuação.

“Se isso acontecer, com certeza estarei envolvido. Mas nós definitivamente estamos trabalhando em ‘Wicked’ e ‘Pippin’."

Teatro Faap - R. Alagoas, 903, Higienópolis. Sex.: 21h. Sáb.: 17h e 21h. Dom.: 15h e 19h. Até 18/8. Ingr.: R$ 75 a R$ 120.

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