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Bem conduzidos, contos destacam desejos e dilemas de mulheres

'A Noite dos Olhos', de Heloisa Seixas, destaca tipos femininos cheios de iniciativa e cedem aos seus impulsos

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A Noite dos Olhos

  • Preço R$ 64,90 (168 págs.)
  • Autor Heloisa Seixas
  • Editora Companhia das Letras

São as mulheres que se destacam em “A Noite dos Olhos”. Protagonizam a maior parte dos contos e, em suas atitudes desafiadoras ou dilemas existenciais, fazem sombra aos poucos personagens homens.

São, quase todas, mulheres que tomam a iniciativa, que cedem aos próprios impulsos e vontades. Nas cenas com certa carga erótica, o desejo feminino ocupa o centro.

Em “Vingança”, como se para favorecer o equilíbrio ou mostrar o negativo de situações, o leitor encontra a antítese perfeita dessa mulher bem resolvida. A protagonista, uma viúva moralista, associa o interesse pelo sexo à vulgaridade, condenando até a mulher que sente prazer com o marido. “Mulher não é para gostar. É para cumprir seu dever, e pronto.”

A escritora Heloisa Seixas - Zé Carlos Barretta/Folhapress

Em geral, os contos giram em torno de mulheres, maridos e amantes. Uma das exceções é o excelente “Alexia”, em que duas linhas do tempo se interpõem para sugerir uma protagonista confusa. O erótico
“Banhos Árabes”, outra exceção, é composto de sensações táteis, olfativas, gustativas.

Há uma mulher em coma; uma que contrata um garoto de programa numa festa de Ano-Novo em Copacabana; uma que não é capaz de lidar com as memórias ao remexer nos armários dos pais mortos.
Se a prosa é, digamos, tradicional e regular, sem arroubos, há boas surpresas no que a condução destaca e oculta —mas nem sempre nos desfechos.

A boa condução é visível na simplicidade absoluta; é o caso de “Sintomas”, uma das mininarrativas de “Pequenos Contos do Amor Assombrado”.

Numa lentidão calculada e em alguns casos injustificável, gestos e olhares dos personagens são registrados em profusão. Graças a isso, não faltam momentos em que tudo parece suspenso —inclusive no registro erótico, uma vez que o prazer como uma espécie de morte é uma das ideias mais reforçadas ao longo do livro.

O que todos aqui têm em comum, homens e mulheres, é a tentativa —às vezes sutil, às vezes desesperada— de preservar alguma ordem no próprio mundo. Tentam, de jeitos diferentes, se manter à superfície.

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