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Capitão América sempre foi um problema no trato com a Casa Branca

Super-herói patriótico está no centro de polêmicas envolvendo denúncias de censura nos quadrinhos da Marvel

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Na semana passada, a edição especial de quadrinhos “Marvel Comics #1000” saiu nos Estados Unidos para comemorar 80 anos de gibis da editora. Mas o lançamento trouxe o segundo caso de censura na Marvel em menos de duas semanas, tirando o brilho da festa e pondo em xeque um dos ícones da casa, o Capitão América.

Nesse livro especial, um artigo escrito pelo roteirista Mark Waid, como se fosse narrado pelo próprio Capitão América, teve seu texto modificado.

Numa primeira versão, veiculada em material de divulgação, o herói diz: “Perguntam-me como é possível amar um país com tantas falhas. Às vezes é difícil. O sistema não é justo. Tratamos alguns dos nossos de modo abominável”. Depois ele diz que consertar a América é trabalho “difícil e sangrento”, que só surtirá efeito quando as pessoas saírem nas ruas “clamando por revolução”.

Desenho de Leinil Francis Yu no gibi que iniciou a nova fase de aventuras do herói, 'Captain America #1', - Divulgação

Na edição agora à venda, o trecho foi suprimido.

Waid disse que não gostou da alteração. Igualmente contrariado ficou Art Spiegelman, cartunista que ganhou o Pulitzer em 1992 pela HQ politizada “Maus”. Depois que foi a escrever uma introdução para o livro “Marvel: The Golden Age 1939-1949”, seu texto foi censurado pela editora.

Nele, Spiegelman lembra o Caveira Vermelha, vilão recorrente nas histórias do Capitão América, e escreve que hoje um maligno “Caveira Laranja” assombra a América, em referência a Donald Trump.

Há duas semanas, Spiegelman afirmou que a censura veio do atual presidente da Marvel Entertainment, Isasc Perlmutter, que é amigo do presidente americano e já teria prometido doações de quase R$ 1,4 milhão para a campanha de Trump à reeleição em 2020.

Líder dos Vingadores, o grupo de super-heróis que é âncora do universo bem-sucedido da Marvel, o Capitão América é muitas vezes problemático para a editora.

Ele tem sua origem nos anos 1940, como um soldado geneticamente modificado pelo exército para matar o maior número possível de alemães na frente de batalha. Inegavelmente, não é um ideal muito nobre para um super-herói.

Com o fim da Segunda Guerra, os quadrinhos do herói perderam sentido e popularidade. No início do anos 1960, Stan Lee decidiu resgatar o personagem. Imaginou que o Capitão América teria passado 20 anos congelado, preservado vivo, e, desperto, passou a integrar a primeira e clássica formação dos Vingadores, ao lado de Thor, Homem de Ferro e Hulk.

O sucesso foi grande no boom de gibis dos anos 1960, mas, no fim daquela década, o Capitão América exibia uma aura de capacho do governo americano. Para “modernizar” o herói e aproximá-lo de jovens leitores com a cabeça feita pela contracultura, ganhou em 1969 um parceiro negro, o Falcão.

Nos períodos mais críticos do governo americano, como na renúncia de Nixon, em 1974, a ordem aos roteiristas era eliminar qualquer referência ao Capitão América como agente federal.

Recentemente, uma guinada nas histórias foi além da conta. Inventaram uma trama em que ele seria na verdade um agente da Hydra, grupo de origem nazista. A chiadeira dos fãs foi tamanha que o Capitão América voltou rápido para o lado do bem.

Na atual série de HQs do personagem, publicada no Brasil pela Panini, o roteirista Ta-Nehisi Coates tenta reposicionar o herói, chegando a criar um enredo em ele vai à fronteira com o México para garantir segurança a imigrantes ilegais. Uma missão que deve desagradar Trump e seu amigo chefão na Marvel.

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