As crianças do musical “Escola do Rock” se revezam em três elencos, que se apresentam em noites alternadas. São quase três horas de espetáculo, e elas tocam de verdade seus instrumentos, assim como cantam e atuam.
A autonomia dos intérpretes mirins está no coração tanto da história que a peça conta quanto no tanto que a plateia se diverte assistindo a ela. Meninas e meninos vão com seus pais e parecem querer participar do show.
O texto é baseado no filme “Escola de Rock”, dirigido por Richard Linklater —“Boyhood”, “Antes do Amanhecer”— em 2003 e com Jack Black no papel principal. Em 2015, virou musical na Broadway, escrito por Julian Fellowes, de “Assassinato em Gosford Park” e “Downton Abbey”, com músicas de Andrew Lloyd Webber, de “Jesus Cristo Superstar” e “O Fantasma da Ópera”.
E chega ao Brasil agora numa versão brasileira fiel à da Broadway, como tem acontecido com outros musicais, que fazem quase uma franquia de seus espetáculos.
Se por um lado isso garante uma qualidade mínima à peça, assim como a sua autenticidade, por outro complica a vida dos tradutores, que se veem lidando com expressões em inglês que não fazem muito sentido quando ditas em português.
Uma delas é quase o lema da trama, “Stick It to the Man”, traduzido em “Escola do Rock” como “Manda se Ferrar”. O espírito é esse mesmo, mas seria mais fiel algo como “esfrega na cara”.
O problema dessa expressão é o “the man” —o homem—, usado em inglês como um termo genérico para os homens do poder, as autoridades, o establishment. Essa montagem até tenta introduzir “o homem” como gíria, mas não cola, fica solto e soa esquisito.
Na história, um desempregado aspirante a músico chamado Dewey Finn decide se passar por seu melhor amigo, Ned Schneebly, numa escola conservadora e cheia de regras para a qual Ned foi contratado como professor substituto. Dewey não tem a menor intenção de ensinar nada a ninguém, só está interessado no dinheiro para pagar o aluguel. Mas, no colégio, descobre que as crianças têm aulas de música desde cedo, sabem tocar bem os instrumentos e têm muito talento.
Apaixonado por rock, decide montar uma banda com os alunos e participar de um campeonato de grupos com o qual ele sonha, a Batalha das Bandas. Acaba se transformando numa influência positiva para os garotos que, pela primeira vez na vida, têm independência e segurança para mostrar o que podem fazer.
Claro que as crianças roubam a cena nesse espetáculo, pois são a mensagem da peça —a de que meninos e meninas podem surpreender quando são levados a sério e tratados com respeito.
O elenco mirim é talentoso e bem treinado, especialmente os quatro que tocam guitarra, baixo, bateria e teclado. Com Dewey alternando os vocais com uma garota da turma, que canta muito bem, além de outras duas nos vocais de apoio, o professor envolve todos os alunos no projeto, que também tem figurinista, empresária, iluminador e segurança.
O grupo dos garotos e garotas toca o que seriam composições próprias, na verdade músicas de Lloyd Weber compostas para a peça. Na versão brasileira, elas são traduzidas para o português.
Na trilha, aparecem trechos de clássicos do rock que o dublê de professor comenta durante as aulas e os ensaios, nas versões originais.
O fim da história é um grande show no qual a Escola do Rock, nome da banda formada pelos alunos, toca os seus hits. Tem que gostar mesmo de rock para apreciar o musical, porque a trilha é pesada e presente o tempo todo, com uma banda de adultos que toca ao vivo no fosso do teatro.
Para a geração de filhos de pais que cresceram ouvindo rock, é uma festa.
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