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Cinema

Filme espírita tem diálogos com clara intenção professoral

Tom leve de 'Divaldo, o Mensageiro da Paz' garante avaliação acima da média entre filmes de temática religiosa

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Divaldo, o Mensageiro da Paz

  • Quando Estreia nesta quinta (12)
  • Elenco Bruno Gracia, Regiane Alves, Ghilherme Lobo, Marcos Veras, Laila Garin
  • Produção Bruno Gracia, Regiane Alves, Ghilherme Lobo, Marcos Veras, Laila Garin
  • Direção Clovis Mello

Filmes espíritas já começam a configurar um subgênero no cinema brasileiro. Depois de cinebiografias de nomes fundamentais na doutrina, Chico Xavier e Allan Kardec, chega agora a trajetória do médium baiano Divaldo Franco. Com alguma dose de surpresa.

"Divaldo, o Mensageiro da Paz", escrito e dirigido por Clovis Mello, ainda preserva a louvação incondicional da doutrina espírita e um didatismo para arrebanhar mais seguidores, duas condições onipresentes em filmes dessa onda. Mas é possível enxergar na narrativa um mínimo de intenção de criar uma estrutura dramática, incluindo no roteiro pelo menos um personagem que foge da simplicidade.

O filme poderia ser apenas a sucessão de eventos na vida de Divaldo, interpretado por três atores diferentes: João Bravo, como o menino que via os mortos e era reprimido pelo pai; Ghilherme Lobo, no início da fase adulta e já trabalhando sua mediunidade para ajudar as pessoas; e Bruno Garcia, como o homem maduro que começa a construir o grande centro de ajuda espiritual que Divaldo, hoje com 92 anos, oferece às crianças pobres na Bahia.

Dois elementos quebram uma estrutura previsível em "Divaldo, o Mensageiro da Paz". Primeiro, o tom leve na condução de diálogos com humor, com resultados irregulares. Segundo, a ótima atuação de Marcos Veras como um espírito perturbado, que ameaça Divaldo desde a infância.

Pelo filme inteiro, as aparições do personagem de Veras, com ar maléfico ressaltado por roupas escuras e expressões carregadas de ódio, criam um mistério que só será esclarecido na parte final do longa. E, numa boa sacada do roteiro, acaba oferecendo um desenho revelador da dinâmica do espiritismo.

Esses pontos positivos garantem uma avaliação acima da média entre filmes de temática religiosa, mas não é fácil acompanhar com entusiasmo a obra como um todo. A atuação do elenco, com exceção dos ótimos Marcos Veras e Laila Garin, como a mãe de Divaldo, é contida por diálogos que não escapam da clara intenção professoral.

O caráter panfletário não afeta apenas as cenas dramáticas, nas quais pontos cruciais da trilha desbravada por Divaldo Franco perdem força em frases disparadas com uma frieza de interpretação ginasiana. As tentativas de humor ou, pelo menos, de sacadas espirituosas, travam na total ausência de naturalidade do texto.

Fica evidente que "Divaldo, o Mensageiro da Paz" é um bom filme para agradar seguidores e curiosos pelo trabalho monumental do médium como escritor, professor, orador e filantropo. Mas precisava de mais maturidade para atrair quem busca um cinema mais consistente.
 

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