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Gael García Bernal dirige filme que é espécie de 'Cidade dos Homens' mexicano

'Chicuarotes' foi gravado em uma comunidade da Cidade do México e traz não atores do local

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São Paulo

A premissa de “Chicuarotes”, longa com direção de Gael García Bernal que estreia nesta quinta (5) no país, não é muito diferente daquela da série “Cidade dos Homens”, spin-off de “Cidade de Deus” exibida pela Globo.

Como Laranjinha e Acerola, os amigos Cagalera e Moleteco também têm de confrontar os dilemas comuns da adolescência num ambiente hostil. No lugar das vielas labirínticas de uma favela carioca, o cenário é San Gregorio de Atlapulco, distrito pobre da Cidade do México.

É a ele, aliás, que se refere o título do filme. Chicuarote é uma pimenta ardida típica da região, além de gentílico pelo qual são conhecidos seus moradores, com fama de durões.

O nome dá uma pista da diferença do filme de García Bernal em relação à série brasileira.

Aqui, o protagonista Cagalera se convence de que o crime compensa já na primeira cena, quando, vestido de palhaço, desiste de pedir esmola para sacar a arma e assaltar um ônibus. “Se só ficarmos nas piadas, estamos ferrados”, desabafa com Moleteco.

O assalto é o primeiro de uma série de pequenos crimes que enreda os dois numa espiral crescente de violência.

Ainda assim, García Bernal —que como ator já trabalhou com realizadores como Pedro Almodóvar e Michel Gondry e em breve será visto ao lado de Wagner Moura em “Wasp Network”, de Olivier Assayas— recusa a pecha de filme de pobreza que ouviu de alguns espectadores.

“Essa reação mostra a hipocrisia com a qual as pessoas lidam com essas questões, que é ‘já falamos sobre esse assunto, e por isso não queremos mais vê-lo’. Mas ele está diante dos nossos olhos em países como o México ou o Brasil”, afirma.]

O ator e cineasta mexicano Gael García Bernal, em foto de agosto deste ano
O ator e cineasta mexicano Gael García Bernal, em foto de agosto deste ano - Rodrigo Garrido/Reuters

Em vez disso, o diretor interpreta “Chicuarotes” como um filme sobre a crise da masculinidade. “Esse ciclo eterno da violência não vai acabar com armas ou com a polícia, mas quando inventarmos novas narrativas de esperança”, defende.

“E as mulheres têm uma narrativa mais delicada e terna do que aquela que impera. Quem é totalmente privado de amor e compaixão se torna um psicopata funcional.”

De fato, são os personagens de alguma maneira afeminados que sugerem uma saída para a tragédia de Cagalera, como sua mãe, vítima de violência doméstica, seu irmão, homossexual reprimido, e sua namoradinha Sugheili.

A obra foi rodada na própria comunidade de San Gregorio, onde cresceu o roteirista Augusto Mendoza. Afora Cagalera, Sugheili e os adultos, o resto do elenco é todo composto por não atores do lugar, selecionados em workshops realizados ao longo de dois anos.

O roteiro é ainda mais antigo —sua primeira versão tem cerca de uma década. Quase o mesmo tempo desde o longa de estreia de García Bernal, “Déficit”, de 2007, até então seu único de ficção. Agora, o ator conta querer dirigir mais. “Há tantas coisas sobre as quais quero falar”, diz.

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