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Imerso na cultura brasileira, game é versão pop de 'Os Sertões'

'Árida' tem proposta ambiciosa com protagonista mulher não branca e 3D

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Árida

  • Onde store.steampowered.com
  • Preço Disponível por R$ 9,99

O jogo brasileiro “Árida: Backland’s Awakening” é em 3D, o que já denota uma proposta ambiciosa. Afinal, trata-se de um lançamento independente.

Nessas condições, os desenvolvedores costumam privilegiar jogabilidade em duas dimensões —mais simples, portanto— e enfatizar outros elementos. Entre os exemplos independentes recentes que usam esse princípio está “Celeste” (Matt Makes Games), com uma corajosa narrativa em torno da saúde mental, “Guacamelee” (DrinkBox), que traz combates divertidos e “Hollow Knight” (Team Cherry), com exibição de gráficos deslumbrantes.

“Árida” consegue se destacar ao direcionar tramas, gráficos e mecânicas para um contexto brasileiro. É a promessa de uma vida sem tantas dificuldades em Canudos que seduz a jovem retirante Cícera. 

Em mais de 30 anos jogando videogames, é a minha segunda vez diante de uma protagonista mulher não branca. A primeira foi em “Dandara” (Long Hat House), também brasileiro e também independente.

Os boatos que Cícera ouve do que para nós brasileiros são detalhes históricos, como a tensão política em torno de Canudos, sobem a temperatura da narrativa. É “Os Sertões” pop e em nova perspectiva.

Sobrevivência é a chave. Os antagonistas estão no ambiente: o sol, a água, a falta de comida. Para superar isso, é necessário coletar frutos, afiar instrumentos, cozinhar, fazer armadilhas. É preciso explorar. 

Os limites do cenário são dados por paredes invisíveis, talvez a única solução sem uma gota de criatividade.

A alimentação está no centro dramático, a maior barreira a ser superada, o que vai definir o sucesso ou fracasso da empreitada. Para superar a falta de nutrição, Cícera usa ingredientes típicos do sertão, como macaxeira, jerimum, pirão de mandioca. Isso chama a atenção pelo ineditismo. Por regra, os games refletem as culturas europeia, americana ou japonesa, ou seja, o contexto dos seus criadores. 

O sabor brasileiro não fica só nos pratos. Trilha e efeitos sonoros, como um coral de igreja nas capelas, enriquecem a experiência tão familiar do cotidiano do país. Entenderão os estrangeiros a razão de a rapadura dar energia e sede ao mesmo tempo?

O controle, no entanto, é um pouco áspero. Faltou polimento ao game. Mesmo em computadores parrudos, acima dos recomendados, o jogo apresenta pequenas travadas quando em resoluções mais altas e com gráficos mais detalhados. Uma pena, pois parte da força está justamente nas soluções do visual cartunesco do desolado sertão.

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