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Longa com Julianne Moore é um melodrama raso, mas que funciona

'Depois do Casamento' peca pelo excesso de lágrimas e de viradas narrativas

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Depois do Casamento

  • Quando Estreia nesta quinta (19)
  • Elenco Billy Crudup, Julianne Moore, Michelle Williams e outros
  • Produção EUA, 2019
  • Direção Bart Freundlich

“Depois do Casamento”, de Bart Freundlich, trata de maternidade e abandono. São dois temas fortes, de altíssimo potencial melodramático. Evidentemente não falta emoção ao filme. Talvez um de seus maiores problemas seja o do excesso: há duas maternidades em jogo, e três ou quatro abandonos.

Diretora de um orfanato na Índia em estado de penúria, Isabel (Michelle Williams) viaja a Nova York para encontrar-se com Theresa (Julianne Moore), rica diretora de uma agência de publicidade disposta a fazer-lhe uma generosa doação.

A dificuldade, no primeiro momento, é Jacob despedir-se de Jay (Vir Pachisia), um órfão de oito anos de quem cuida com especial afeto. Ela parte, prometendo estar de volta em uma semana, a tempo do aniversário do garoto.

 

O luxuoso hotel em Manhattan onde a protagonista se hospeda parece-lhe, então, obsceno, tamanho o contraste com a realidade indiana de onde ela vem. Isabel chega à cidade às vésperas do casamento de Grace (Abby Quinn), filha de sua patrocinadora e, assim, acompanha sem querer parte dos preparativos. O que fazer se não houver lagosta suficiente para o risoto dos convivas?

O choque entre a abertura do filme, que ostenta os tons terrosos da pobreza indiana, num registro que não foge dos estereótipos, e a chegada a Nova York, numa palheta de azuis muito limpa, também incomoda o espectador. Ainda mais perturbadora, porém, é a forma como o filme —e até a protagonista— rapidamente se adapta ao mundo de opulência e facilidades, e a miséria indiana se apaga pouco a pouco da memória.

Em uma sequência de ‘turning points’, o roteiro revela que Jay não é o único órfão da história. Todas as mães ali já abandonaram suas crias em algum momento —ou estão prestes a fazê-lo. As descobertas dos múltiplos abandonos, escondidos no passado ou à espreita num futuro próximo, rendem cenas repletas de lágrimas. Se separadamente essas cenas poderiam ser potentes, no conjunto elas causam a sensação de exagero.

Remake de um filme de mesmo título rodado por Susanne Bier em 2006, “Depois do Casamento” lança um olhar amoroso sobre mães que em algum momento não têm alternativa senão separar-se dos filhos e, sob a aparência inicial de que sobressaem julgamentos severos, a moral da história favorece a empatia e os laços afetivos que sempre podem surgir e ressurgir.

Ainda que a performance de Julianne Moore seja sempre cativante, não espere a força política de “As Horas”, inspirado em Virginia Woolf. Nem a potência de “Kramer versus Kramer”, outro filme sobre o abandono materno. Trata-se de um melodrama mais raso —mas que funciona.

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