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Mais do que 'Game of Thrones', Emmy consagra 'Fleabag' e voz cômica feminista

A série da Amazon dominou os prêmios da categoria e firmou a empresa no páreo contra outras gigantes do streaming

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Podem aplaudir os 12 prêmios conquistados por “Game of Thrones” neste domingo (22) na cerimônia do Emmy, mas a noite foi de Phoebe Waller-Bridge, sua maravilhosa “Fleabag” e da Amazon, que se firmou no páreo com as gigantes já consagradas, HBO e Netflix.

"GoT" merece, sim, reverência e apreço por ter sido o maior fenômeno pop desta década, ainda que parte dos espectadores tenha se sentido decepcionada com o final da fantasia política pseudomedieval (esta colunista aprovou).

“Fleabag”, porém, é o que há de novo e relevante no ar, fazendo comédia a partir do (necessário e ausente) ponto de vista de uma mulher sexualmente liberal, independente e mais ou menos bem resolvida, que erra tentando ser boa, que tem pequenezas e falhas, e que passa sem tropeços do adorável ao detestável. 

Ou seja, “Fleabag” é boa porque soa real e muito identificável, porque faz rir de verdade e porque traz uma voz pouco ouvida em comédia, a de uma mulher fora de arquétipos (felizmente a edição do Emmy deste ano mostra que isso começa a mudar).

“Isso está ficando ridículo”, disse Phoebe ao subir ao palco surpresa, pela terceira vez na noite, para pegar o quarto prêmio principal que “Fleabag” abocanhava na festa.

Ao contrário de “Game of Thrones”, que viu as estatuetas dramáticas se pulverizarem, a série da Amazon dominou todas as categorias cômicas mais relevantes: melhor direção, melhor roteiro, melhor atriz, melhor série —os três últimos para ela, a pessoa mais premiada desta 71ª edição.

Ela lembrou que “Fleabag” começou como seu espetáculo solo em Edimburgo. E o que veio em seguida, graças a seu texto ágil e timing impecável: a adaptação para uma série da BBC em 2016, depois distribuída globalmente pela Amazon, e uma nova e espetacular temporada neste ano

Além de seis estatuetas para “Fleabag”, a Amazon celebrou mais oito para outra série cômica feminista, a segunda temporada de “A Maravilhosa Sra. Maisel”.

Não há, contudo, disputa entre as duas: os troféus mais relevantes que “Sra. Maisel” levou neste ano, após prevalecer em 2018, foram as de atores coadjuvantes e participações especiais (Tony Shalhoub e Alex Bornstein, o pai e a empresária de Maisel, e os convidados Jane Lynch e Luke Kirby). 

O discurso de Bornstein, lembrando que sua avó judia só escapou do Holocausto porque se atreveu a sair da fila de execuções diante de guardas nazistas, foi dos mais comoventes, convocando as mulheres a “saírem da linha”. Patricia Arquette e Michelle Williams (melhor coadjuvante e atriz em minissérie) a ecoariam em emoção e ativismo. 

A política, aliás, foi a grande ausente da noite, talvez um indício de fadiga, surgindo apenas no pedido de RuPaul, contemplada por seu reality de competição entre drag queens, para que as pessoas se inscrevam para votar num país onde ir às urnas não é obrigação.

Além do trunfo de “Fleabag” e da Amazon, brilhou “Chernobyl”, da HBO, a minissérie que reconta o desastre nuclear soviético para abordar as consequências da mentira política e do Estado autoritário e populista, tema muito relevante aos nossos tempos.

Levou melhor minissérie, melhor direção e melhor roteiro —poderia ter levado ator (Jared Harris) e coadjuvante (Stellan Skarsgård), mas o primeiro foi suplantado pelo colossal Jharrel Jerome, que interpretou Korey Wise adolescente e adulto na magnífica “Olhos que Condenam” (Netflix), e o segundo foi inexplicavelmente preterido por Ben Whishal, de “A Very English Scandal” (Amazon).

E o que aconteceu com “Game of Thrones”, afinal?

Foi derrotada pela própria grandiosidade. Com diversos atores, diretores e roteiristas da mesma série concorrendo entre si nas principais categorias (como escolher entre Lena Headey e Maisie Williams, Cersei e Arya, por exemplo), viu parte dos principais troféus pararem em outras mãos.

No caso de melhor atriz dramática, uma vitória surpreendente de Jodie Comer, a Vilanelle de “Killing Eve”; já a melhor coadjuvante foi a arrebatadora Julie ​Garner, a magnética Ruth de “Ozark”.

“Ozark”, aliás, uma ótima série subestimada, também levou melhor direção para Jason Bateman, que ainda a protagoniza (faltou premiar Laura Linney, que faz a esposa executiva que mostra um insuspeito talento para o crime no drama da Netflix).

Já o Emmy de melhor ator ficou com Billy Porter, este uma surpresa bem-vinda, por seu desempenho na ousada “Pose”, da FX, e o de roteiro para “Sucession”, da HBO.

"GoT" só levou mesmo ator coadjuvante, o quarto prêmio pelo mesmo papel para o imenso Peter Dinklage, que por oito temporadas viveu o anti-herói Tyrion Lannister, com larga vantagem o melhor personagem da série. 

E, claro, além de um caminhão de prêmios técnicos, o de melhor série dramática, lastreando o feito de ter se tornado uma referência obrigatória e incomparável em qualquer conversa, estudo ou análise sobre a produção televisiva atual. Não, não é só uma “série de dragões”.

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