Marco da literatura usa narrativa tortuosa e vibrante para denunciar o colonialismo

"Max Havelaar", do holandês Multatuli, surpreendeu ao criticar o modelo de dominação de seu país

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Luís Augusto Fischer

No romance cabe rigorosamente qualquer coisa: crônica de costumes, trama de amor, crítica da vida, mistério policial e mergulho subjetivo estão entre os elementos mais conhecidos. O que pouca gente pensou, ao menos antes de 1860, é que também caberia nele uma forte crítica ao colonialismo.

Naquele ano veio à luz “Max Havelaar”, assinado por Multatuli, holandês de imensa criatividade e com forte bronca do esquema colonial de seu país. Tendo trabalhado como gestor na Indonésia, viu a corrupção e o horror do tratamento dispensado aos nativos. Escreveu cartas para denunciar os problemas, mas foi ignorado. Então, ocorreu-lhe a hipótese de escrever um romance. E o romance acolheu suas denúncias.

Capa de "Max Havelaar", do holandês Multatuli, publicado pela editora Âyné.
Capa de "Max Havelaar", do holandês Multatuli, publicado pela editora Âyné. - Reprodução

O resultado é um texto impressionante, com arquitetura narrativa única, tortuosa e vibrante. Na abertura, um burguês repulsivo, “homem de bem” exemplar, Batavus Droogstoppel, toma a palavra para louvar o mundo colonial.

Mas encontra um farrapo humano, chamado no texto de o Homem do Xale, que lhe repassa um conjunto heterogêneo de manuscritos, contendo poemas, cartas, textos dramáticos e narrativas.

Droogstoppel então contrata o jovem alemão Ludwig Stern para redigir um livro a partir disso. E então entra em cena o personagem-título, que vive no romance as experiências que o autor viveu de verdade. O pseudônimo Multatuli foi tirado de um verso de Horácio e significa “sofri muito”.

O resultado tem a força dos grandes textos experimentais e inesperados, como “Moby Dick” —agrupação de coisas desparelhas tendo, no entanto, um foco claro, neste caso a denúncia do colonialismo.

Pela primeira vez traduzido ao português diretamente do holandês, o livro traz o requinte das notas feitas pelo autor para uma versão tardia do livro, em 1881. Resulta que lemos o romance, um minucioso debate sobre sua recepção inicial e ainda um conjunto impressionante de documentos a atestar a verdade crua por detrás da ficção.

Não é acaso que o livro seja um marco na literatura de sua língua e um dos mais originais romances de todos os tempos.

Max Havelaar

  • Preço R$ 84,90 (590 págs.)
  • Autoria Multatuli. Tradução: Daniel Dago
  • Editora Âyné

NACIONAIS

A Elegância do Agora
Constanza Pascolato
Tordesilhas
R$ 98 (216 págs.)

Aos 80 anos, a empresária Costanza Pascolato, grande nome da moda brasileira, revisita a sua trajetória juntando memórias da vida e dicas de estilo. A musa da elegância fala de sua história de sucesso e de sua vida atual, ativa e curiosa, mais transgressora do que nunca. Em 2013, ela lançou, pela Sextante, “O Essencial: O que Você Precisa Saber para Viver com Mais Estilo”.

 

O Preço do Peixe
Jayme Serva
Laranja Original  
R$ 40 (156 págs.)

Neste livro, o autor de “Cem Sonetos, Pouco Mais, Pouco Menos” e de “Lucy - Uma Vida Professora” reúne contos inspirados em histórias que ouviu de outras pessoas. Se consideradas reais, ainda que alteradas pelo efeito “telefone sem fio” de narrativas que passam de uma pessoa a outra, as histórias do livro podem ser consideradas como crônicas. O leitor que compre o peixe, diz o autor.

INTERNACIONAL

 

Duplo Eu
Navie e Audrey Lainé
Trad. Renata Silva; Nemo
R$ 54,90 (144 págs.)

Nesta história em quadrinhos francesa, a autora, a parisiense Navie, conta sua história de aceitação. Ela, uma garota obesa, percebe que carrega um duplo, um outro corpo dentro do seu. Ela luta, então, para se livrar desse outro e amar a si mesma. O livro tem os belos desenhos em preto, branco e toques poéticos de laranja de Audrey Lainé.

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