Precisando bater a meta do mês, um vendedor de enciclopédias afina suas habilidades de convencimento e sedução. Mas, quando as coisas começam a melhorar, seu patrão vai à falência e ele flagra sua mulher transando com outro.
O começo de “O Diretor Nu”, uma das primeiras produções japonesas da Netflix, é um clássico. O protagonista se vê encurralado e apela para uma solução pouco convencional. Lembrou de “Breaking Bad”?
Aqui a saída não são as drogas, mas a pornografia. Há 40 anos, essa área já era negócio milionário no Japão. Mas, comparado com o resto do mundo, o país até que era pudico, já que o nu frontal e o sexo explícito eram proibidos.
Toru Muranishi mudou tudo isto, e ainda inventou um estilo que se tornou popular: o pornô “em primeira pessoa”, com a câmera na mão de um dos atores. Sua história é contada no livro de Nobuhiro Motohashi que serviu de inspiração para a série.
Além do tino para os negócios e da disposição em testar os limites da lei, Muranishi também era completamente desinibido. Não hesitava em tirar a roupa e passar para a frente das câmeras, atuando com gosto em cenas que não deixam nada para a imaginação. O ator Takayuki Yamada (“Ilha dos Cachorros”) dá mais do que conta do recado.
“O Diretor Nu” é uma comédia. Mas não faltam lances dramáticos: uma das subtramas é centrada na jovem Megumi (Misato Morita). Para se livrar do controle da mãe e ter dinheiro para estudar na Itália, ela se torna estrela pornô. E se descobre uma mulher sensual, sem medo de assumir os desejos.
Também há cenas dignas de uma série policial, com lutas e perseguições. Afinal, o sucesso de Muranishi incomoda tanto a polícia quanto a máfia japonesa, que controla quase todo o negócio da pornografia do país.
Para o espectador ocidental, também chama atenção o Japão que aparece na tela, muito longe do ideal clean e ultra-avançado que povoa o imaginário comum. O país atravessava uma crise econômica no início de 1980. “O Diretor Nu” não se furta a mostrar vielas sujas, casas feias e pessoas necessitadas.
A série traz momentos engraçados e até ousados para os padrões da TV paga. Mas não é empolgante como no trailer e a ação só pega fogo no terceiro episódio.
Vale a pena insistir. Além de o chamado “Imperador do Pornô” ser uma figura fascinante, o programa revela as nuances de um país imperfeito — e mais humano.
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