Série sobre moradia nasceu da ideia de abordar como é o funcionamento do MTST

Dirigida e produzida por Eugenio Puppo, 'Ocupações' retrata Brasil em convulsão

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São Paulo

Conhecido pela defesa das populações em situação de rua há pelo menos quatro décadas, o padre Júlio Lancellotti, 70, anda desiludido.

“Agora que estou velho, eu aprendi a não levar a sério algumas expressões. 

Uma delas é política pública”, afirma o pároco de uma igreja no bairro da Mooca, em São Paulo. Para ele, políticas públicas no Brasil se transformaram numa “forma de controlar os mais pobres”.

O padre é um dos entrevistados de “Casa Invisível”, o quinto episódio da série “Ocupações”, que estreia nesta terça (10), no canal CineBrasil TV.

Dirigida e produzida por Eugenio Puppo, que já lançou documentários como o premiado “Sem Pena” (2014), a série trata das ideias e do cotidiano dos movimentos sociais que ocupam áreas no campo e, principalmente, nas cidades. 

“A gestação do projeto partiu de uma vontade de abordar o funcionamento do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, o MTST. Era uma pauta que tinha surgido com força naquele momento de turbulência política pós-junho de 2013 e de discussão do Plano Diretor de São Paulo”, afirma Puppo.  

Aos poucos, diz o cineasta, “fomos percebendo que uma das estratégias que esse movimento usa, de ocupar prédios sem utilização e terrenos improdutivos, era também adotada por muitas outras organizações naquele momento”.

Além do MTST, a série mostra as iniciativas de organizações camponesas, como o MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, e as ações promovidas por estudantes secundaristas.

O trabalho de Puppo e sua equipe se estendeu por dois anos, com filmagens nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco. Com 13 episódios de cerca de 25 minutos cada, a produção tem a consultoria do arquiteto e urbanista Guilherme Wisnik. 

Além das imagens próprias, “Ocupações” faz bom uso de  trechos de antigas produções brasileiras. Em vez de evidenciar contraste, a sobreposição de imagens do presente e do passado expõe semelhanças, demonstrando a ineficiência do poder público no combate ao déficit de moradias.  

É o que acontece no segundo episódio, “Propriedade”. Puppo acompanha a ida de alunos de uma escola municipal a um cortiço em São Paulo. Em meio às cenas da visita, surgem imagens de “Bexiga, Ano Zero” (1971), curta-metragem de Regina Jehá. A precariedade se altera em nuances, o corpo corroído se mantém. 

“Os materiais de arquivo têm a importante função de pôr questões muito contemporâneas sob uma perspectiva histórica, mostrando que os problemas são bem complexos”, diz o diretor.  

Ao longo da série, há mais de cem trechos extraídos de produções como “Construções Rurais” (1956), de Humberto Mauro, e “Brasília: Contradições de uma Cidade Nova” (1967), de Joaquim Pedro de Andrade.

Foram garimpados em acervos de museus, bibliotecas e instituições de preservação, entre outras fontes.   
Também chama a atenção a trilha sonora com criações de Walter Smetak, o suíço radicado em Salvador que exerceu grande influência sobre Tom Zé e o grupo Uakti. O som áspero dos instrumentos inventados por Smetak acentua a percepção de desarmonia que as imagens exploram.

Passada a exibição no CineBrasil TV, Puppo deve lançar “Ocupações” em plataformas de vídeo sob demanda.

Ocupações

  • Quando CineBrasil TV. Primeiro episódio, “Terra”: ter. (10), às 21h, e qui. (12), às 21h30. Segundo episódio, “Propriedade“: qui. (19), às 21h30. Terceiro episódio, “Gestão Pública“: qui. (26), às 21h30.
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