Descrição de chapéu The New York Times

Takis, escultor autodidata que criou arte com peças em movimento, morre aos 93

Ele foi um dos primeiros artistas que emergiram na década de 1950 a criar escultura cinética

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Roberta Smith
The New York Times

O artista cinético conhecido como Takis entrou no Museu de Arte Moderna, em Nova York, em 3 de janeiro de 1969. Ele foi a uma exposição intitulada “A Máquina no Final da Era Mecânica” e, com a ajuda de vários amigos, retirou dela sua “Tele-Escultura”, uma obra compacta de 1960 com duas esferas pintadas ligadas a fios que giravam em volta de um ímã magnético e um pequeno motor.

Takis disse que não fora consultado sobre a inclusão da escultura —que integrava o acervo permanente do museu desde 1962— na exposição. Segundo reportagem publicada no “New York Times” no dia seguinte, falou também que optou pela ação para “estimular um diálogo mais significativo entre a direção do museu, artistas e o público”.

O incidente desencadeou reuniões entre artistas, críticos, cineastas, escritores e funcionários do museu. Esses encontros levaram à criação da Coalizão de Trabalhadores da Arte, da qual Takis foi um dos fundadores.

home idoso com roupa preta e barba branca
O artista Takis, em foto de 2001 - Startos Havalezis/AFP
Em seus três anos de existência, a coalizão promoveu protestos e pressionou museus a se comunicarem mais com os artistas vivos cujas obras possuíam; a ser mais abertos e inclusivos, especialmente com relação a artistas não brancos e artistas mulheres; e a assumir uma posição moral em relação à Guerra do Vietnã.

Essa mini revolta foi a última ocasião em que Takis exerceu influência importante em Nova York. Sua visibilidade estava diminuindo à medida que a arte cinética e a tendência aliada da op art eram varridas para o lado nos EUA pelo predomínio crescente do minimalismo e da arte conceitual. A última exposição solo de Takis em Nova York aconteceu em 1970, na galeria Howard Wise, segundo a Fundação Takis.

Takis morreu aos 93 anos, em 9 de agosto. Mas nos anos que antecederam sua morte ele assistiu a um ressurgimento do interesse por seu trabalho e o de outros artistas da vanguarda europeia dos anos 1950 e 1960.

Sua morte foi anunciada pela Fundação Takis, que não informou onde ele morreu.

Takis teve sua primeira exposição americana em 45 anos em 2015, quando a Coleção Menil, em Houston, montou uma pequena retrospectiva de seu trabalho. Naquele ano o Palais de Tokyo, em Paris, promoveu uma exposição grande da obra de Takis. E semanas apenas antes de sua morte a galeria Tate Modern, em Londres, inaugurou uma retrospectiva abrangente de seu trabalho (ela continuará até 27 de outubro).

homem idoso
O artista Takis, em foto de 2001 - Stratos Havalezis/Reuters

Autodidata, Takis foi um dos primeiros artistas que emergiram na década de 1950 a criar escultura cinética, trabalhos que incluíam partes em movimento. Suas obras podiam lembrar luminárias do tipo "faça você mesmo", trabalhos científicos ou simplesmente construções inacabadas; pareciam estranhas, mas quando eram ativadas, seus movimentos podiam causar espanto, educar e divertir as pessoas.

Descrevendo-se como “cientista instintivo”, Takis dizia com frequência que o que mais o interessava era tornar visíveis as forças invisíveis do universo. A energia era tanto o tema quanto o meio principal de sua arte.

Takis fez parte de uma geração que procurou redefinir a arte no pós-Segunda Guerra Mundial, enfocando menos a expressão pessoal e mais os fatos palpáveis e a realidade objetiva. Os artistas op e cinéticos se voltaram a princípios científicos ligados a cores, padrões e movimento.

Enquanto as telas de pintores de op art como Richard Anuszkiewicz, Victor Vasarely e Bridget Riley apresentavam desenhos óticos que aparentavam estar em movimento, os artistas cinéticos produziram esculturas ativadas pelo vento, o toque ou pequenos motores.

O grupo cinético —que incluiu George Rickey, Jean Tinguely e Carlos Cruz-Diez, morto em julho— encontrou inspiração nos trabalhos de Marcel Duchamp, dos construtivistas russos e de Alexander Calder.

Takis era um espírito independente, alguém que tendia a usar diferentes mídias e a improvisar. Ele criou suas primeiras esculturas cinéticas no final dos anos 1950, depois de ficar fascinado pelas luzes faiscantes, o vapor e os trens da estação ferroviária de Calais, durante viagem de Londres a Paris.

Ele intitulou esses esforços “Sinais”; eles consistiam em luzes e peças de máquinas presos ao topo de varetas altas e flexíveis, lembrando antenas. Mais tarde Takis utilizaria ímãs, eletroímãs, gravidade e radares e incorporaria sons aos seus trabalhos.

Obra 'Radar', de Takis - Takis Foundation

Durante algum tempo ele usou os “Sinais” em performances nas ruas de Paris. Em 1960, na galeria Iris Clert, em Paris, utilizou ímãs para fazer um amigo (o poeta sul-africano Sinclair Beiles) flutuar no ar por um instante.

Takis também trabalhou como compositor, diretor musical e designer teatral. Ele cooperou em performances com Nam June Paik e Charlemagne Palestine.

Takis, cujo nome real era Panagiotis Vassilakis, nasceu em Atenas em 29 de outubro de 1925, o sexto dos sete filhos de Athanasios e Alexandra Vassilakis. Seu pai era corretor imobiliário e sua mãe vinha de uma família mercantil rica. O casal perdeu a maior parte de seus bens após a Guerra Greco-Turca de 1919-1922.

Takis cresceu em Atenas durante a ditadura de Ionnis Metaxas e a ocupação alemã. Em 1942 entrou para a resistência e mais tarde combateu na Guerra Civil grega de 1946-1949 no lado dos comunistas. Esse lado acabou derrotado, fato que lhe valeu uma pena de prisão de seis meses quando a guerra chegou ao fim.

Ele se educou principalmente com a leitura de livros sobre ciência, filosofia, mitologia e artes. O mais perto que chegou de frequentar uma escola de arte foi com as aulas que recebeu de um ferreiro que lhe ensinou a soldar e fundir ferro, habilidades que seriam essenciais ao seu trabalho artístico e lhe possibilitariam ganhar a vida trabalhando para ferreiros.

No final dos anos 1940, depois de conhecer o trabalho de Picasso e Giacometti, Takis decidiu tornar-se escultor. Ele criou bustos tradicionais de gesso e argila, influenciado pela escultura grega clássica, mas não demorou a absorver os fundamentos da escultura cicládica, da arte egípcia e das figuras atenuadas de Giacometti. Em 1954, mudou-se para Paris, onde conheceu Giacometti, Calder, e artistas mais jovens como Yves Klein e Tinguely.

Takis passou os anos seguintes se alternando entre Paris e Londres. Durante esse período, teve dois filhos com duas mulheres diferentes. Sua filha, Rosy-Anne Fell Vassilakis, nasceu em 1958 da pintora britânica Sheila Fell, que Takis conheceu em 1953.

Em 1959 ele conheceu a artista americana Liliane Lijn, em Paris, e em 1960 eles tiveram um filho, Athanasios Vassilakis. Eles se casaram em 1961 e se divorciaram mais tarde. Não foi possível encontrar informações sobre seus filhos ou ex-mulheres.

A primeira exposição solo de Takis, “Figuras em Gesso e Ferro”, foi montada em Londres em 1955, na galeria Hanover. Sua primeira mostra solo em Nova York foi em 1960 na galeria do marchand e colecionador grego Alexandre Iolas, que exibiria os trabalhos de Takis em suas galerias em diversas cidades europeias até 1976.

No ano letivo de 1968-1969 Takis foi professor visitante no Centro de Estudos Visuais Avançados do Massachusetts Institute of Technology, em Cambridge, Massachusetts, razão por que estava perto do MoMA durante a exposição “Machine”.

Mas ele encontrou sucesso maior na França, onde a maioria de suas exposições ocorreu e onde ele regularmente recebeu encomendas de obras públicas, entre elas de um trabalho para uma nova estação de metrô em Toulouse.

Em 1995 Takis representou a Grécia na Bienal de Veneza. Declarando-se “cidadão do mundo”, decidiu expor seus trabalhos diante do pavilhão da Grécia e não no interior dele, para assumir posição contra as fronteiras na arte.

Tradução de Clara Allain

 

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