Descrição de chapéu Televisão

Telenovela 'A Morta Sem Espelho', escrita por Nelson Rodrigues, está perdida

Autor foi descoberto pelo cinema, com adaptações de 'Boca de Ouro' e 'Bonitinha, mas Ordinária', mas também foi parar na televisão

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São Paulo

Nelson Rodrigues, no momento em que foi descoberto pelo cinema, com as adaptações de “Boca de Ouro” e “Bonitinha, mas Ordinária”, sucessos de bilheteria às vésperas do golpe de 1964, também foi parar na televisão.

Walter Clark, então na TV Rio, emissora que dividia programação com a paulista Record, da mesma família, encomendou o que seria a primeira telenovela produzida na cidade, em 1963 —dois anos antes de surgir a Globo.

Era para ser a “novela das oito”, mas o juizado de menores ordenou 22h30. Segundo Clark, na autobiografia “O Campeão de Audiência” (Summus), “como não existia essa faixa de novelas e não havia o hábito do público, tivemos de cancelá-la” após dois meses.

“Terminou, afinal, ‘A Morta Sem Espelho’, um dramalhão fúnebre, um enredo deletério, de neuróticos e assassinos”, publicou o Correio da Manhã em 9 de novembro, acrescentando, porém, elogios “à linguagem ousada, solta e inesperada” do autor.

Uma cena ficou célebre, aquela em que o personagem do ator Ítalo Rossi desperta sua mulher com uma arma, dizendo: “Acorda para morrer”. Mas o texto da “primeira novela brasileira de todos os tempos”, como descreve Ruy Castro na biografia “O Anjo Pornográfico” (Companhia das Letras, 1992), se perdeu, assim como as gravações.

Procurados, a atriz Fernanda Montenegro e o pesquisador e editor Caco Coelho disseram não ter pistas nem desta nem de outras duas novelas que Nelson Rodrigues escreveu no ano seguinte, “Sonho de Amor” e “O Desconhecido”.

Coelho chegou a ir aos arquivos da censura, mas “tinham destruído”, e a várias pessoas do elenco, sem sucesso. Restam fotos, resumos e depoimentos, inclusive sobre a divergência entre Clark e o autor, quanto ao gênero.

O objetivo do primeiro era uma atração “naquele espírito de combate à Excelsior”, emissora então em ascensão, “com uma programação mais sofisticada”. Já o dramaturgo queria o folhetim. 

“Novela é um gênero de concessão”, dizia, mas que “pode ser bonito, pode ser a obra mais hierática”, sagrada.

“Eu queria fazer folhetim no duro, bem cabeludo. Nunca me deixaram. O pessoal queria intelectualizar o negócio. Se você quiser elevar o folhetim, fica ridículo, atroz.” Na síntese de Nelson Rodrigues, que nunca mais escreveria telenovela, “o bom folhetim é isso: coisas tremendas, adúlteras fugindo em carruagens”.
 

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