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Cinema

'Vai que Cola 2: O Começo' acerta e erra, mas com ousadia

Transformar uma série de TV bem-sucedida em um filme para ganhar os cinemas é algo, no mínimo, questionável

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VAI QUE COLA 2: O COMEÇO

  • Classificação 12 anos
  • Elenco Cacau Protássio, Samantha Schmütz, Marcus Majella, Catarina Abdalla
  • Produção Brasil, 2019
  • Direção César Rodrigues

Para começar, a proposta de transformar uma série de TV bem-sucedida em um filme para ganhar os cinemas é algo, no mínimo, questionável. Quase sempre, o resultado não surpreende. A oferta se resume a um episódio esticado na tela grande.

Mesmo seriados instigantes como "Os Normais" caíram nessa cilada. Aliás, a série "Cilada", de Bruno Mazzeo, também foi uma vítima.

"Vai que Cola", o filme de 2015, surfou no sucesso da comédia exibida pelo canal Multishow. De humor escrachado, com forte sotaque do subúrbio carioca, é apresentada diante de uma plateia, como teatro filmado em estúdio. Modelo copiado de "Sai de Baixo", dos anos 1990, que por sua vez já reutilizava a fórmula de "Família Trapo", da década de 1960.

"Vai que Cola 2: O Começo", agora nos cinemas, não comportava grandes expectativas, mas é evidente que o filme tem seus acertos. O humor avança em altos e baixos, muita coisa só tem graça para quem conhece bem os personagens, mas é louvável como o roteiro se arrisca em sequências completamente absurdas. Humor sem freio sempre vale a pena.

O filme é o que os americanos celebrizaram como "prequel". Foca acontecimentos cronologicamente anteriores aos relatados no primeiro longa. No original, o centro da trama estava em Paulo Gustavo e seu personagem, Valdo. As piadas vinham de seu relacionamento com os hóspedes da pensão da Dona Jô, no Méier. Agora, a história recua para mostrar como o grupo de personagens que vive na pensão foram parar por lá.

O protagonismo está com Cacau Protássio, que interpreta Terezinha Tziu. Se o humor de "Vai que Cola" nasce principalmente de arranca-rabos entre seus personagens, a histriônica Terezinha é um furacão em cada cena. Grita, esperneia, bate boca e não tem capacidade de conversar sem ser no volume máximo. Quando ela sai de cena, parece que o filme se acalma.

Outros dois tipos se destacam. A periguete Jéssica, defendida com garra por Samantha Schmütz, e Ferdinando, "concierge" da pensão com pretensões a atriz, interpretado com muito carisma por Marcus Majella. Eles, como o resto do elenco, repetem os trejeitos e os fraseados dos personagens que já interpretam desde 2013, quando a série começou a ser exibida.

O humor rasteiro tem seus fãs cativos, que levaram o seriado à maior audiência da história do Multishow e fez mais de três milhões de pessoas pagarem ingresso nos cinemas para ver o primeiro filme. Mas até quem torce o nariz para as piadas repetitivas da série vai se surpreender com os rumos do roteiro desse segundo longa.

Não há limites. Personagens morrem e voltam para interagir com os vivos. As coincidências são disparatadas. Marcelo Médici participa como um sujeito que cai de paraquedas nas cenas, literalmente, apenas para explicar furos do roteiro. E o filme ainda esconde sob disfarces a atriz Fiorella Mattheis, logo ela que está na série de TV como a bonitona da turma.

Talvez o segundo "Vai que Cola" no cinema não repita os números estrondosos da primeira produção, mas não falta coragem aos roteiristas Renato Fagundes, João Paulo Horta e Leandro Soares. Mesmo presos aos personagens consagrados na TV, injetam frescor na franquia. Acertam e erram, mas com ousadia.

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