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Cinema

Afinidade entre Paulo Betti e Eliane Giardini compensa viés teatral de drama

'A Fera na Selva' é adaptação do livro homônimo do escritor Henry James

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Neusa Barbosa

A Fera na Selva

  • Classificação 12 anos
  • Elenco Paulo Betti e Eliane Giardini
  • Produção Brasil, 2017
  • Direção Paulo Betti, Eliane Giardini e Lauro Escorel

Quase 30 anos após dividirem a cena numa adaptação teatral da novela “A Fera na Selva”, de Henry James, Paulo Betti e Eliane Giardini trouxeram para o cinema o texto elegante do autor americano naturalizado inglês. Lançado no Festival de Gramado em 2017, somente agora o filme chega ao circuito. 

Adaptações literárias sempre correm o risco de as palavras, por mais belas que sejam, solaparem o ritmo
da transposição ao cinema.

Nada melhor, portanto, neste mergulho numa cascata de frases elaboradas, do que ter a parceria do exímio diretor de fotografia Lauro Escorel, creditado também com a codireção, responsável por criar nas imagens uma atmosfera de caixinha de música nostálgica. Este clima é reforçado pela direção de arte precisa de Ronald Teixeira, emoldurando um duelo em que as emoções são mantidas sob controle.

João (Paulo Betti) e Maria (Eliane Giardini) são dois professores que se conheceram por acaso, há muitos anos. Naquele encontro inaugural, ele lhe revelou seu segredo —julgava-se predestinado a um acontecimento terrível. A confidência a uma desconhecida, um raro impulso, lança os dois numa amizade que se estende pelos anos, tornando a espera pela fatalidade um fardo em comum. Mas não é o mesmo o peso assumido por cada um.

De certa maneira, o filme se aproxima da obra de Júlio Bressane, outro diretor apaixonado pela elegância verbal de uma literatura que não propõe caminho fácil ao espectador. Com um narrador onisciente que preenche lacunas, é um relato em que, aparentemente, não muito acontece, a não ser a passagem do tempo e o envelhecimento dos protagonistas, nesta estranha relação à qual falta uma faísca. 

Este jogo de não acontecimentos, mantido em fogo brando por diálogos um tanto cifrados, pode afastar o público mais apressado. A verborragia e o vinco teatral, aqui tão à tona, não raro dificultam o acesso às emoções —mas é este, afinal, o dilema central, construído com afinco por dois atores de uma afinidade exemplar.

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