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Artes Cênicas

Dirigida por Miguel Falabella, 'A Mentira' tem diálogos artificiais

Montagem joga para segundo plano as intrigas, os raciocínios intrincados, concentrando-se no teatro 'boulevard', popularesco

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A Mentira

  • Quando Sex. e sáb., às 21h. Dom., às 18h. Até 24/11
  • Onde Teatro Frei Caneca, r. Frei Caneca, 569
  • Preço R$ 160 a R$ 200

“A Mentira” é uma nova comédia do francês Florian Zeller, hoje tido como um dos mais capacitados e hábeis dramaturgos europeus, autor preferido de intérpretes como Isabelle Huppert e Jonathan Pryce.

No entanto, a opção de Miguel Falabella como diretor, a começar do elenco que escolheu e preparou, joga para segundo plano as intrigas, os raciocínios intrincados do autor —concentrando-se no teatro “boulevard”, popularesco.

Também acaba desperdiçando muitas das deixas dramáticas que surgem no texto. Embora entretenimento, a peça sobre traição e relacionamentos não esconde as angústias, revoltas, os impactos emocionais, pelo contrário.

Trata-se de adultério, com seguidas passagens cômicas, mas oferecendo outras trilhas a explorar. A principal delas seria, em meio às mentiras que se amontoam, perder-se o discernimento do que é realidade —o que vale para personagens e espectadores.

Curiosamente, o ator que reflete melhor esse vaivém pirandelliano, ambíguo entre o humor e o drama, entre o falso e o verdadeiro, é o próprio Falabella, desta vez também o tradutor, além de diretor.

Em fase amadurecida, experiente de décadas em outros gêneros desde o início da carreira, o ator parece refletir em “A Mentira” algo semelhante ao que Antonio Fagundes realiza em “Baixa Terapia”, também em cartaz em São Paulo.

Algumas das marcas de sua interpretação, como os confrontos inusitados e farsescos, seguem presentes e engraçados, mas sem esconder os choques que seu papel enfrenta seguidamente com os fatos.

Por vezes, se mostra frágil, confuso e sufocado, nada caricato. Mas o diretor não transfere essa gravidade, até melancolia, aos demais atores.

Zezé Polessa, atriz de muitas chaves, sendo a comicidade apenas uma delas, desta vez está perdida, num frenesi intermitente, de comunicação exaustiva com a plateia. Não permite que a personagem venha à tona.

O mesmo acontece com Karin Hils e Frederico Reuter, mais conhecidos do teatro musical e que na peça constroem tipos, coadjuvantes de comédia popular, em diálogos que acabam resultando artificiais.

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