Descrição de chapéu

Eddie Murphy volta à boa forma no papel de comediante boca suja

Em 'Meu Nome é Dolemite', produção da Netflix, personagem tenta a carreira no cinema após sucesso em stand-up

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Meu Nome É Dolemite

  • Onde Disponível na Netflix
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Eddie Murphy, Wesley Snipes e Keegan-Michael Key
  • Produção EUA, 2019
  • Direção Craig Brewer

É possível que grande parte dos leitores não saibam o quão boca suja Eddie Murphy pode ser. Faz pelo menos duas décadas que ele não faz um filme proibido para menores —desde “Life”, com Martin Lawrence, de 1999, em que recupera as raízes de seus stand-ups, recheados de palavrões e gírias. Pois é esse Eddie Murphy que encarna o músico e comediante Rudy Ray Moore, em uma história real, com uma certa doçura e grandes doses de frustação. Mas muito engraçada.

A trama se passa nos anos 1970, em Los Angeles, e Rudy começa o filme em baixa, trabalhando em uma loja de discos e sempre tentando fazer o DJ da casa (Snoop Dogg) tocar uma de suas músicas. Com sonhos de chegar ao estrelato, Rudy mantém um segundo emprego como apresentador de comediantes num clube, onde pode ficar cinco minutos no microfone. A plateia não chega nem a prestar atenção nele, as piadas são infames e sua presença é quase nula.

Eis que surge uma inspiração. Um mendigo desdentado do bairro onde fica a loja de discos, que sempre conta histórias divertidas e em rimas sobre um certo cafetão chamado Dolemite, que se gaba de suas conquistas sexuais e de suas brigas. Ou, como ele diz, “fuck up motherfuckers”, expressão sem tradução possível em um jornal liberado para todas as idades.

 

Rudy vê uma saída para sua vida e vai atrás do mendigo com um gravador para ouvir mais casos. Em casa, ensaia na frente do espelho as histórias de Dolemite, inventa outras, pega o ritmo da fala do mendigo, usa uma peruca afro embaixo de um chapéu panamá e adota uma bengala como ornamento. Ao se apresentar como Dolemite, o público presta atenção. Seu alter ego funciona.

Logo ele grava um álbum pirata que se torna um sucesso. Rudy ganha dinheiro, abandona os dois empregos e vira artista de verdade.

Numa noite, reúne os amigos para jantar e ir ao cinema. Decidem assistir a “A Primeira Página” (1974), com Jack Lemmon e Walter Matthau. No cinema, os quatro amigos, todos negros, não acham graça do filme e reclamam da falta de negros no elenco. Rudy vira para trás e olha fixamente para o projetor. Dolemite está pronto para a tela grande.

Ele imagina um longa-metragem cheio de sexo, violência, karatê e comédia. Mas os produtores, todos brancos, argumentam que não adianta ele ser conhecido em “cinco quarteirões da cidade”. Já Rudy afirma que toda cidade tem os mesmos cinco quarteirões, e essa é sua audiência.

A partir daí, é um filme dentro de um filme. A diferença é que o filme a que estamos assistindo é ultra bem feito, ao contrário do de Dolemite. Ele contrata um dramaturgo para criar o roteiro (Keegan-Michael Key) e um ator famoso como diretor (Wesley Snipes, ótimo). 

Os atores são todos negros, é um típico filme de blaxploitation, a não ser por um detalhe: toda a equipe técnica é branca, formada por cinco garotos de 20 anos com cara de 14, ex-alunos do roteirista.

É muito bom ver Eddie Murphy, 58, em plena forma. Wesley Snipes também está hilário como o ator pretensioso cujo maior papel foi o de um ascensorista em “O Bebê de Rosemary”. O filme funciona muito pelos mesmos motivos que funcionará o longa sendo produzido: tem piadas de sexo, profanidade, karatê, mas, principalmente, tem muita graça.

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