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Entenda por que personagens de séries de sucesso são ressuscitados no cinema

'Downton Abbey', 'Breaking Bad' e 'Família Soprano' são alguns dos títulos que chegam à tela grande anos depois de seus últimos episódios

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Cena do filme de 'Downton Abbey'

Cena do filme de 'Downton Abbey' (2019) Jaap Buitendijk/Divulgação

São Paulo

Quem não acredita em vida após a morte pode até se convencer do contrário diante dos filmes e séries que andam estreando.

Afinal, seja nas franquias de super-heróis ou nos derivados que inundam as plataformas de streaming, difícil mesmo é encontrar um personagem morto e enterrado —até Walter White, protagonista de “Breaking Bad”, foi ressuscitado para os flashbacks de “El Camino”, longa fruto da série lançado há duas semanas na Netflix.

Não é o único seriado a virar filme nos últimos tempos.

“Downton Abbey”, encerrado em 2015, foi outro a ganhar um longa para chamar de seu. Com estreia nesta quinta (24) no Brasil, ele reencontra os moradores do imponente castelo nos preparativos para receber a família real britânica.

Vale lembrar que a estratégia de reviver produções televisivas no cinema não é inédita em Hollywood.

“Arquivo X” e “Veronica Mars” foram alguns dos seriados que chegaram à tela grande anos depois de seus derradeiros episódios irem ao ar.

A diferença, explica Marcel Vieira, professor de cinema da Universidade Federal da Paraíba, é que essas séries se enquadravam num formato chamado de “procedural”. Muito usado nas tramas médicas e policiais, nele cada capítulo conta uma história independente.

Nesse sentido, os filmes não passavam de um episódio estendido. Era possível acompanhar as narrativas sem estar familiarizado com personagens e enredos.

Vieira não recomenda fazer o mesmo com “Downton Abbey” e “El Camino”, uma vez que ambas as tramas avançam em seus respectivos universos ficcionais sem dar muitas explicações aos novatos.

Essa aposta nos fãs órfãos se provou certeira —e lucrativa. O longa aristocrata derrotou o novo “Rambo” e até o Brad Pitt astronauta de “Ad Astra” em seu fim de semana de estreia nos Estados Unidos.

“É um negócio interessante para os espectadores, que reativam sua ligação afetiva com essas obras, e para os produtores, que já têm uma ideia de quem é seu público”, diz Vieira.

A equação também atraiu os produtores de “Família Soprano” e de “The Walking Dead”.

O filme derivado do primeiro tem estreia marcada para o ano que vem, e mostrará um jovem Tony Soprano numa briga de gangues na Nova Jersey dos anos 1960. Já o segundo, ainda sem data de lançamento, deve centrar sua trama no antigo protagonista da saga de zumbis, o xerife Rick Grimes.

Enquanto isso, o criador de “Downton Abbey”, Julian Fellowes, negocia uma sequência para o longa originado da série, segundo revelou o tabloide britânico The Sun.

Mas a garantia de público não é o único elemento a explicar o fenômeno. O fato de que essas produções, muitas delas pioneiras da era de ouro dos seriados, já incorporavam um estilo mais cinematográfico do que televisivo também ajudou a tornar a passagem para a tela grande mais natural.

“É mais fácil reconhecer o filme de ‘Breaking Bad’ como uma continuação daquele mundo do que o de ‘Arquivo X’”, exemplifica Vieira.

Foi essa porosidade entre as janelas que, segundo o produtor Fabiano Gullane, motivou a migração da série “Carcereiros”, da Globo, para o cinema. “É um projeto que tem fôlego, e queríamos explorar todos os caminhos possíveis”, diz.

O longa homônimo, exibido na Mostra de São Paulo, será lançado em 28 de novembro.

Rodado entre as filmagens da segunda e terceira temporadas, ele aproveitou cenários, figurinos, elenco e equipe da série, incluindo o diretor José Eduardo Belmonte.

Gullane calcula que essa estrutura prévia tenha reduzido à metade o investimento no filme, o que pode indicar outra razão pela qual faz sentido desdobrar as produções em diversas mídias.

Em cartaz, “Hebe - a Estrela do Brasil” foi outro que aproveitou a dobradinha entre filme e série para cortar custos. Segundo a produtora Clara Ramos, três dos dez episódios do seriado, ainda em produção, usaram o material do longa.

Mais importante, afirma a produtora, a multiplicidade de formatos pode ajudar a conquistar diferentes plateias.

“Como a Hebe tinha espectadores cativos na TV aberta, achamos que a série vai se comunicar com eles. Já no filme, tínhamos a ideia de expandir a trama para um público jovem, engajado”, afirma sobre o longa, que retrata a apresentadora como uma defensora dos LGBTs que peitou a censura no contexto da transição para a democracia.

Tanto “Hebe” quanto “Carcereiros” ainda se desdobram em documentários. “Encarcerados” fará sessões na Mostra a partir desta quinta (24). Já a produção sobre Hebe tem previsão de estrear no ano que vem, depois de a série ir ao ar.

“Temos muita demanda para obras audiovisuais, mas estamos tateando para entender  o público”, diz Ramos.

Até lá, pelo visto, os personagens estão longe de seus merecidos descansos eternos.

Downton Abbey - o Filme

  • Quando Estreia nesta quinta (24)
  • Elenco Maggie Smith, Matthew Goode, Michelle Dockery
  • Produção Reino Unido, 2019
  • Direção Michael Engler

Encarcerados

  • Quando Mostra de SP: qui. (24), às 19h50, e dom. (27), às 13h30, no Espaço Itaú Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569); qua. (30), às 14h, no IMS (av. Paulista, 2424)
  • Preço R$ 20 a R$ 24
  • Produção Brasil, 2019
  • Direção Claudia Calabi, Fernando Grostein e Pedro Bial
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