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Cinema

Filmado por americano em favela carioca, longa 'Pacificado' mostra mais do mesmo

Não há problema algum em termos um diretor estrangeiro abordando um tema bem brasileiro, mas produção exagera no padrão hollywoodiano

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Pacificado

  • Onde Mostra de SP: qui. (24), às 21h, no Petra Belas Artes (r. da Consolação, 2.423); sex. (25), às 16h, no IMS (av. Paulista, 2.424); seg. (28), às 18h10, no Espaço Itaú - Augusta (r. Augusta, 1.475)
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Bukassa Kabengele, Cassia Gil e Débora Nascimento
  • Produção Brasil/EUA, 2019
  • Direção Paxton Winters

“Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles e Kátia Lund, inaugurou um novo filão no cinema brasileiro, o “favela movie”. O termo, normalmente usado assim mesmo, em inglês, em vez de traduzido, é pernicioso, pois pressupõe uma internacionalização de um problema social brasileiro pela via do exotismo.

Paxton Winters é um cineasta e fotojornalista americano que morou oito anos no Morro dos Prazeres. Isso lhe deu condições para fugir do rótulo, uma vez que seria tentador empregá-lo em seu segundo longa na direção, “Pacificado”, simplesmente por sua nacionalidade.

Mas o olhar estrangeiro pode ser agudo e justo, como o cinema assim demonstrou muitas vezes (Fritz Lang nos EUA, por exemplo). Não há problema algum em termos um diretor estrangeiro abordando um tema bem brasileiro.

E “Pacificado” avança alguns degraus na representação recente de uma comunidade carente em nosso cinema. Mas a aproximação da trama com o padrão hollywoodiano, no caso, é um problema, pelo excesso de convenções da narrativa.

O ponto de vista predominante, pelo menos no início, é o da garota Tati (Cassia Gil), que não conhece o pai, ensaia passos de funk com a amiga Letícia (Rayane Santos) e vê a mãe, Andrea (Débora Nascimento) se afundando no vício.

Jaca (o ator belga Bukassa Kabengele), ex-líder do tráfico no morro, volta da cadeia, onde passou 14 anos (mais ou menos a idade de Tati). Sabemos logo que ele teve um envolvimento com Andrea, o que permite acharmos que na verdade Jaca (Jack?) é o pai de Tati (ela também acha isso, por sinal).

Mas o centro do filme é a quase inevitabilidade de Jaca voltar ao comando do tráfico, uma vez que o jovem que ele mesmo colocou em seu lugar, Nelson (José Loreto), tem modos demasiadamente violentos, desequilibrando a vida dos moradores locais.

Tal como Michael Corleone, o personagem de Al Pacino em “O Poderoso Chefão”, Jaca está mais interessado em outros assuntos: neste caso, a pizzaria que monta no início do morro.

De certo modo, isso quer dizer que há traficante bom e traficante ruim, divisão presente também na trilogia de Coppola. Há o que procura evitar que o crack se espalhe pelo morro e aquele que só quer dinheiro e poder.

Pena que no desenvolvimento da trama muito do que vemos nos parece mais do mesmo, desde a caracterização dos personagens maus até as soluções dramáticas adotadas dentro dos registros da vingança, do suicídio e da intimidação.

A violência é mais sugerida do que mostrada, o que é um ponto que o diferencia dos demais filmes de tráfico na favela. Mas há uma terrível exceção: o corte no rosto de uma adolescente, inserido para mostrar a maldade de Nelson. Afinal, é difícil resistir às facilidades do maniqueísmo.

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