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Jesus é bem mais do que só insinuação em álbum gospel de Kanye West

Novo disco 'Jesus is King' pode incomodar alguns, mas é a prova de que rapper é dos artistas mais habilidosos hoje

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Jesus Is King

  • Onde Disponível nas plataformas de streaming
  • Autor Kanye West
  • Gravadora Def Jam Recordings

“Jesus flui através de nós/ Jesus cura as feridas/ Jesus limpa a música/ Jesus, por favor nos ajude/ Jesus, por favor, nos cure/ Jesus, por favor, nos perdoe/ Jesus, por favor revele/ Jesus, nos dê força/ Jesus, nos faça bem/ Jesus, nos ajude a viver/ Jesus, nos dê riqueza/ Jesus é a nossa segurança/ Jesus é a nossa rocha/ Jesus, nos dê a graça/ Jesus, nos dê segurança.”

As frases poderiam estar no sermão de algum pastor ou em alguma canção de artista gospel, mas estão em “Water”, faixa de “Jesus Is King”, nono disco de Kanye West, lançado na tarde desta sexta (25).

O nome do disco, Jesus é rei, aponta para uma certa temática religiosa do álbum. 

Mas não é uma referência apenas conceitual: Kanye West fez um disco 100% gospel. Não é licença poética, não é apenas uma insinuação.

West é responsável por alguns dos mais significativos discos da história do rap, como “The College Dropout”, de 2004, no qual já mostrava certa atração pelo cristianismo, e “My Beautiful Dark Twisted Fantasy”, de 2010, álbum que combina com perfeição uma produção musical ambiciosa (que apagava distinções entre a música eletrônica moderna e o soul/funk) e letras que faziam observações espertas a respeito de raça, cultura e consumismo. 

Ele é, ainda, um dos artistas mais criativos da música atual, não apenas do rap. Porque sabe fazer rimas heterodoxas e sabe produzir criando climas nada óbvios.

Faz algum tempo que West se mostra intimamente ligado à espiritualidade. Há alguns meses, criou o Sunday Service, uma espécie de missa guiada por rimas otimistas e coro gospel. Alguns de seus recentes álbuns têm títulos como “Yeezus” (2013) e “The Life of Pablo” (2016). Mas “Jesus Is King” é diferente. 

Aqui, é fé em Deus e pé na tábua. Liricamente, o disco tem apenas um tema. É um disco no qual West clama por salvação. Jesus é uma referência que percorre o álbum de maneira direta, explícita.

“Deus é/ A minha luz na escuridão, oh/ Deus, Deus é/  Ele, Ele é meu tudo e todos (E eu nunca voltarei atrás)/ Deus é”, ele canta em “God Is”.

“Disse que eu estou bem, vou fazer um álbum gospel/  O que você tem ouvido dos cristãos?/ Eles serão os primeiros a me julgar/ Fazer parecer que ninguém me ama/ Eles serão os primeiros a me julgar/ Sentindo como se ninguém me amasse”, rima em “Hands On”.

“Everything We Need” tem boas sacadas, como: “E se Eva fizesse suco de maçã? Você vai fazer o que Adão fez?

Ou dizer: ‘Baby, vamos botar isso de volta na árvore’”.

Se, liricamente, “Jesus Is King” pode cansar, a produção não deixa o ritmo cair. West mostra-se, mais uma vez, um produtor que sabe criar atmosferas que reconstroem o passado e apontam para o futuro.

Em “Water”, por exemplo, há um clima que lembra bastante Marvin Gaye; “God Is” é totalmente um soul-gospel do século 21; em “Use This Gospel”, West chama o rapper Clipse e até Kenny G. —e, surpreendentemente, a música funciona bem, com os vocais carregados de West em certo momento sendo interrompidos por um solo de saxofone que não parece estar fora de lugar.

“Jesus Is King” apresenta um Kanye West obcecado por Jesus e pedindo por salvação. 

Liricamente, pode incomodar alguns. Mas musicalmente o álbum é a prova de que West é um dos artistas mais habilidosos do pop atual.

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