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King Crimson faz show esquisito e leva fãs ao êxtase em estreia no país

Banda britânica se apresenta no palco Sunset do Rock in Rio, no domingo (6)

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KING CRIMSON EM SP

Se o som do King Crimson é inclassificável, o show da banda é muito mais esquisito. Vai contra tudo aquilo que costuma ser recomendável numa noite de rock. Mesmo assim, é uma experiência radical de música, para extasiar fãs.

 
A banda criada há 50 anos pelo guitarrista britânico Robert Fripp fez seu primeiro show no Brasil na noite de sexta (4), no paulistano Espaço das Américas, antes de se apresentar no palco Sunset do Rock in Rio, no domingo (6).

No festival carioca, limitações de tempo pela escala de shows do evento vão obrigar o grupo a reduzir drasticamente seu set para pouco mais de uma hora no palco. Em São Paulo, o King Crimson conseguiu mostrar seu show habitual, tocando por quase três horas.

Na verdade, um pouco menos na contagem final de tempo, porque depois de uma primeira parte de quase 70 minutos, o público teve um intervalo de 20 minutos para circular fora das cadeiras ridiculamente apertadas no grande salão. Aí a banda voltou para tocar mais uma hora e meia.

Intervalo parece mais coisa de concerto de orquestra do que de show de rock. E, no palco, a atitude da banda estava mesmo mais próxima do clima das salas eruditas.

Os músicos não caminham pelo palco. As três baterias, mais uma das peculiaridades do King Crimson, ficam na frente, junto ao público. Atrás, sobre uma plataforma elevada, os outros quatro integrantes. O líder Fripp passa o show inteiro sentado, tocando guitarra e às vezes algum teclado.

Normalmente usados para imagens fechadas que ajudam a plateia a ver os músicos com mais detalhes, os telões perdem a função com o King Crimson. A única imagem exibida neles é uma visão geral do palco, de frente, mostrando toda a banda. Exatamente a mesma visão de quem está vendo do meio da plateia. E é só.

Não são feitas projeções no fundo do palco, apenas uma discreta forma abstrata em azul, imóvel durante todo o show. Definitivamente, o King Crimson não dá a mínima para o visual. Só quer saber de música.

E aí a banda faz toda a diferença. Os caras tocam uma barbaridade, principalmente Fripp e o baixista Tony Levin. O vocalista e também guitarrista Jakko Jakszyk se sai muito bem na dificílima missão de cantar quatro músicas que em 1969 foram imortalizadas pelo vozeirão de Greg Lake (1947-2016), que antes de integrar o gigante Emerson, Lake & Palmer foi cantor do King Crimson em seu álbum de estreia.

É justamente esse disco, "In the Court of the Crimson King", que pontua momentos ímpares no show. É o álbum do grupo que mais chega perto de um, digamos, rock progressivo "tradicional". Depois, com as inúmeras mudanças de formação da banda feitas pelo onipresente Fripp, o grupo ficou bem mais experimental, com um leve flerte com o jazz.

Tem a ver com o perfil da banda, que apresenta peças longas, às vezes passando de dez minutos, com muito improviso e um tom de desafio instrumental que lembra os melhores combos do jazz moderno.

Mas é muito emocionante quando o repertório do álbum de estreia é resgatado. São hinos do rock, de arrepiar: "Epitaph", "Moonchild", "In the Court of the Crimson King" e "21st Century Schizoid Man", esta fechando o bis.

Todo o show é impactante, desde a abertura com "Hell Hounds of Krim", que incluiu trechos de "Garota de Ipanema". "Red", "Cirkus", "Indiscipline" e tantas outras eram recebidas com urros da plateia já nos primeiros acordes.

E a plateia é um caso à parte. Longos cabelos brancos eram facilmente avistados em qualquer canto do Espaço das Américas, além de muitas cabeças calvas. O público era quase todo cinquentão e sessentão. Nas camisetas, estampas de bandas tão veteranas quanto o King Crimson —Jethro Tull, Yes, Aphrodite's Child, Pink Floyd, Tangerine Dream e outras das antigas.

Depois de três horas simulando com as mãos guitarras e baterias tocadas no ar, esses fãs saíram muito satisfeitos. A questão é ver se o grupo vai agradar tanto a plateia heterogênea do Rock in Rio. Em São Paulo, tocando para seu público original, o King Crimson foi mesmo rei.

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