Mais de 8.000 fãs cantam hinos do thrash metal em despedida do Slayer

Contrariando veto da produtora do show, público abriu várias rodas de pogo durante apresentação

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São Paulo

"Auschwitz, o significado da dor / a forma com a qual eu quero que você morra / morte lenta, decadência imensa / banhos que lavam você da sua vida". Nesta quarta (2) à noite, 8.200 mil fãs cantaram em uníssonos os versos de “Angel of Death” (anjo da morte), uma das músicas mais conhecidas do Slayer.

O coro do público na faixa que fala sobre o médico dos campos de concentração nazista Josef Mengele foi o momento alto do primeiro dos dois shows de despedida dos palcos brasileiros da banda californiana, considerada por público e crítica uma das quatro grandes do thrash metal —junto a Metallica, Megadeth e Anthrax.

Depois de 37 anos de estrada, o Slayer anunciou no ano passado que faria uma última turnê mundial antes de pendurar as guitarras. No país, eles ainda se apresentam no Rock in Rio, na sexta (4). Mas os fãs que estiveram no Espaço das Américas, em São Paulo, não deveriam ficar tristes com a notícia da aposentadoria, e sim felizes por poderem presenciar o epílogo de uma banda que ajudou a forjar um gênero musical.

Não há outra forma de dizer: eles são uns animais ao vivo, aumentando em vários graus a violência e a velocidade de hits dos anos 1980 como “Reign in Blood” e “South of Heaven”, já naturalmente rápidos e agressivos. Mesmo faixas mais palatáveis, como “Repentless”, do último disco da banda, lançado em 2015, ganham peso no show.

Contrariando a cartilha do metal, os integrantes não precisam pular ou bater cabelo para chamar a atenção do público: eles já sobem no palco com o jogo ganho e não se agitam tanto em comparação a outras bandas. A plateia os recebeu com a animação esperada, gritando “olê, olê, Slayeeeerrr” em diversos momentos dos 90 minutos da apresentação, como uma torcida que vê seu time preferido em final de campeonato.

Na terça, a produtora que trouxe o grupo ao Brasil divulgou um comunicado proibindo os fãs de abrirem a famosa roda de pogo durante o show, por motivos de segurança, segundo o informe. Mas tentar barrar a maneira típica de celebrar um apresentação de metal é como impedir que as pessoas dancem em uma balada.

Não havia apenas uma roda punk, como é o usual, mas sim várias: na frente do palco, no meio do salão e até mesmo no fundo, mais perto da saída. O pogo já havia começado no show de abertura, dos paulistanos do Claustrofobia, que incentivaram o público a “abrir a roda". Mas nas primeiras músicas tocadas pelo Slayer o negócio ganhou outra dimensão: mesmo se você quisesse ficar parado, seria empurrado (educadamente) por alguém. Faz parte.

Dito isso, é fato que na metade do show as faixas começam a se parecer demais umas com as outras. A complexidade instrumental de “God Hates Us All", por exemplo, perde um pouco de suas nuances ao vivo se comparada à versão em estúdio. A compensação veio no volume quase ensurdecedor do som que tornou esta e outras músicas verdadeiras granadas sonoras.

O palco era um espetáculo visual à parte, talvez o mais lindo que este repórter já presenciou em anos frequentando shows de metal. Ao fundo, as bandeiras que se estendiam do chão ao teto traziam estampas gigantescas de caveiras, bodes, pentagramas e detalhes de Jesus crucificado, em uma ode à iconografia da música pesada que o próprio Slayer ajudou a criar.

Terminada a última música, o vocalista Tom Araya ficou quase dez minutos no palco sorrindo e olhando para o público —ele sabia que aquele momento não iria se repetir. Araya então dobrou os braços contra o peito em sinal de agradecimento, chegou perto do microfone e disse “tchau”.

Rock in Rio

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