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Artes Cênicas

Montagem de 'Os Sete Afluentes do Rio Ota' reduz atualidade da peça

Apesar do empenho do elenco e da excelente atuação de Marjorie Estiano, tudo ali parece uma fantasmagoria do passado

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Os Sete Afluentes do Rio Ota

  • Quando Qui. a dom., das 18h às 23h. Qua., dia 27 de novembro, às 18h. Até 1º de dezembro
  • Onde Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195, Pinheiros
  • Preço R$ 50
  • Classificação 14 anos

“Os Sete Afluentes do Rio Ota” foi criado pelo encenador canadense Robert Lepage de forma coletiva com seu grupo Ex Machina na década de 1990.

Logo se tornou uma encenação antológica, seja por sua qualidade estética, seja por captar algo do espírito do tempo naquela virada de milênio. Os sete atos da peça atravessam acontecimentos traumáticos do século 20, mas sugerindo um tipo de superação das tragédias. 

Em vez do lamento pela destruição, vemos uma espécie de homenagem às formas de transformar estes escombros.

Tudo começa com o trauma da bomba  que destruiu Hiroshima e culmina num jovem ocidental que vai estudar no Japão. A tragédia é também uma chance de nova harmonia.

Mas a força histórica do espetáculo não está ligada só à trama. O texto se completa como obra pela impactante encenação de Lepage. É uma espécie de pintura em três dimensões, composta por cenários modulares, espelhos, luzes, dança, vídeo e texto enunciado em várias línguas. 

Os recursos articulam passado e passado, criam múltiplas perspectivas sobre os fatos, fazem com que uma casa japonesa vire receptáculo para a história do século 20 e corrigem o sentimentalismo privado que emana do texto.

Quando a diretora Monique Gardenberg montou a versão brasileira da obra, em 2002, trabalhou com texto, fotos e  gravações da peça.

Isso não revela falta de atitude criativa, mas uma percepção de que a obra se constitui no conjunto de texto com teatralidade da encenação.

Com sensibilidade e rigor, o espetáculo encontrou força impressionante na montagem brasileira em 2002.

Era um país, afinal, que parecia otimista com seu futuro e com a elaboração de seus traumas.

A remontagem atual faz lembrar da beleza daquele espetáculo. Entretanto, o projeto memorialista diminui a força de outrora. Apesar das justificativas de que a mudança vertiginosa da história dá ao espetáculo uma nova possibilidade de leitura, a montagem é retomada aqui como um museu, um monumento do que foi.

A vontade de reviver um espetáculo de sucesso parece não deixar espaço para ele ser reinscrito na atualidade. Apesar do empenho do elenco e da excelente atuação de Marjorie Estiano, tudo ali parece uma fantasmagoria do passado.

Há hiatos excessivos e alongamentos despropositados que fazem tudo se desenvolver de forma arrastada, algo que corrói o mecanismo fascinante da encenação.

Ainda é visível na retomada a potência do projeto original, vibrante e de grande intensidade histórica. Mas, como num museu, é só a memória de uma força que carece ser reativada.

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