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Morre aos 89 o crítico literário Harold Bloom

Tido como o crítico literário mais famoso da atualidade, defendia autores ocidentais como Shakespeare e Kafka

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São Paulo

Morto aos 89 anos, nesta segunda (14), o crítico literário Harold Bloom talvez tenha sido alvo de só uma unanimidade em vida: a de que era uma figura importante no mundo das artes.

Conhecido por uma certa fúria nas análises e pelas farpas que distribuiu à esquerda e à direita, ele dividiu opiniões e se viu em uma improvável posição de autor best-seller.

Dono de uma voz geralmente tranquila e de um tratamento cortês, Bloom foi uma personalidade solitária durante praticamente toda a sua carreira. 

Nos anos 1950, combateu a “nova crítica” de T.S. Eliot, então a tendência nas aulas americanas de literatura. Na década de 1970, se opôs aos desconstrucionistas. Nos anos 1990, depois de publicar
“O Cânone Ocidental”, se bateu com multiculturalistas e feministas. Sobrou tempo até para provocar a fúria dos fãs de Harry Potter em um artigo para o Wall Street Journal.  

Segundo Bloom, a saga de J.K. Rowling era uma coleção de clichês e um lixo que seria apagado pela história —o que fez o jornal americano receber mais de 400 cartas furiosas em aproximadamente dez dias.

Sua avaliação esbarra com as ideias que o põem como um dos principais críticos literários  dos Estados Unidos —a defesa do cânone e da superioridade de autores como Shakespeare, Dante, Cervantes, Dickens, Tolstói, Joyce e Proust.

Seus críticos apontavam nessa seleção uma defesa da figura do autor homem e branco. Afirmavam que o cânone de Bloom seria arbitrário ao dar pouco ou nenhum espaço a Baudelaire, Stendhal ou Balzac, por exemplo.

Bloom respondia dizendo que esses críticos faziam parte de uma certa “Escola do Ressentimento”, que reuniria marxistas, feministas, multiculturalistas, neoconservadores e todos aqueles que, segundo o professor, rumavam na contramão do que era fundamental na literatura.

É como se seu cânone tivesse dois objetivos. Por um lado, afirmar a grandeza das obras literárias do passado. Por outro, combater o politicamente correto e uma suposta decadência dos estudos literários nos Estados Unidos.

Para ele, a academia estaria promovendo uma caça às bruxas nos livros, jogando na fogueira autores como Emerson e Shakespeare, enquanto louvaria escritores só por causa de sua “pigmentação da pele e orientação sexual”.

Além de “O Cânone Ocidental”, estão entre seus livros mais lembrados e publicados no Brasil “Como e Por Que Ler”, “Shakespeare: A Invenção do Humano” e “Jesus e Javé”. Todos saíram aqui pela editora Objetiva.

Segundo sua mulher, Jeanne, o crítico deu a última aula na Universidade de Yale na quinta (10). Ainda de acordo com ela, em uma entrevista ao New York Times, o último livro de Bloom será lançado pela Yale University Press.

Nascido em uma família judia ortodoxa em Nova York, em 1930, caçula de cinco filhos, Bloom estudou na Universidade Cornell. Ele deixa a mulher e dois filhos. A causa da morte não foi informada

 
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