Roscoe Mitchell, do Art Ensemble of Chicago, quer continuar em evolução

Saxofonista comanda o coletivo de jazz experimental e de vanguarda em dois shows em São Paulo, no Sesc Jazz

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São Paulo

Não sou um músico de jazz”, diz Roscoe Mitchell, saxofonista e líder da Art Ensemble of Chicago, o coletivo de música experimental que se apresenta em São Paulo este fim de semana. Não que seu grupo não toque jazz, na verdade, Mitchell apenas despreza rótulos e considera essas definições limitadoras.

A liberdade artística é a principal marca do coletivo, fundado por Mitchell há 50 anos. “Era a minha banda até 1969. Aí passamos a ser Art Ensemble of Chicago”, conta. “Ensaiávamos sempre, os cinco dias da semana, das 9h às 17h.”

homem tocando percussão em festival de jazz
Roscoe Mitchell conduzindo o Art Ensemble of Chicago em apresentação no Free Jazz Festival, realizado no Museu de Arte Moderna (MAM) - Gustavo Stephan/Agência O Globo

O grupo se estabeleceu com sua formação clássica entre 1970 e 1993, como um quinteto. Além de Mitchell —uma autoridade em termos de improvisação—, o único integrante remanescente da época é o baterista e percussionista Don Moye. Nos shows em São Paulo, o Art Ensemble of Chicago leva 11 pessoas ao palco.

“Éramos uma banda de cinco pensadores independentes”, diz Mitchell. “Funcionávamos bem porque éramos nós mesmos, pensávamos de maneira independente. Você não aprende nada com alguém que está tentando ser outra pessoa.”

A obra mais importante do Art Ensemble of Chicago é a dos anos 1970, quando a banda começou a lançar discos por gravadoras pequenas nos Estados Unidos. Pela Atlantic Records, eles fizeram “Bap-Tizum” (1973) e “Fanfare for the Warriors” (1974), alcançando uma audiência mais abrangente, mesmo com uma sonoridade experimental.

Ao longo das cinco décadas de existência, o Art Ensemble of Chicago sempre foi sinônimo de música de vanguarda. A banda mistura falas absurdistas com mitologia egípcia, quebras de tempo, flautas suaves contrastando com metais agressivos, percussão de influência africana e caribenha, tudo com uma pegada teatral.

Nos shows, a improvisação é a principal força do grupo. “Não somos uma banda cover, nem quero ser”, declara Mitchell. “As pessoas não dizem que gostam do nosso show —elas dizem que precisam dele. É com essas pessoas que estou comprometido.”

Mitchell acredita que “música é matemática” e que a habilidade na improvisação é resultado de muita prática. Mas que também é necessário não estar parado no tempo.

“Você tem que se apegar ao que está acontecendo”, teoriza. “Se eu fizer algo legal essa noite, não vou fazer novamente amanhã. Você tem que entender que cada segundo é diferente —e que você está exatamente naquele segundo.”

Mesmo já consagrado, Mitchell não tem apego ao passado. A mentalidade, diz, é estar em evolução constante.

“Tivemos grandes mestres da música, e quero ser um deles”, diz. “Quem sabe o que Charlie Parker estaria tocando se estivesse vivo? A música está aqui para nos elevar. Estou sempre interessado em expandir —Art Ensemble of Chicago é esse tipo de banda. Estou com 79 anos e nunca quis aprender tanto quanto agora.”

 

The Art Ensemble of Chicago

  • Quando Sáb (26), às 21h, e dom. (27), às 18h
  • Onde Sesc Jazz - Sesc Pompeia, r. Clélia, 93. São Paulo
  • Preço R$ 60
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