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Cinema

Terror nacional desafia tradição sanguinolenta e coloca cineasta na lista de jovens a seguir

'A Noite Amarela', de Ramon Porto Mota, brinca com referências e testa limites da realidade

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A Noite Amarela

  • Classificação 12 anos
  • Elenco Marina Alencar, Servílio de Holanda e Ana Rita Gurgel
  • Produção Brasil, 2019
  • Direção Ramon Porto Maia

A tradição rarefeita do horror no cinema brasileiro vem sendo substituída por filmes que aproveitam o gênero para fazer dele mais que uma coleção de sustos. O horror social adotado por jovens realizadores tem permitido demonstrar nossos temores das diferenças. O menos conhecido horror metafísico abre outras janelas. É por elas que “A Noite Amarela” passa.

Depois de realizar um dos episódios do politizado “O Nó do Diabo”, o produtor, diretor e roteirista paraibano Ramon Porto Mota explora os códigos do terror para brincar com referências, interpretar comportamentos e testar os limites da realidade.

A filiação a um gênero tão obediente a códigos é reconhecível desde a apresentação de um grupo de jovens que chegam a uma ilha. Não se trata de mero clichê do terror, mas de uma condição “sine qua non” do gênero. Não ter personagens indefesos no papel de reféns de forças malignas ou sobrenaturais é o mesmo que não ter crime em uma trama policial.

A casa assombrada é outro elemento indispensável, assim como a ambientação escura, condição que o filme resolve situando a maioria das cenas em interiores ou à noite.

A filiação assumida contrasta, por sua vez, com a inversão de clichês. O que se espera de jovens curtindo um feriado em uma ilha no litoral nordestino é muito sol, mar cristalino e coqueirais. Na única cena de praia, o dia parece nublado, e os personagens, pálidos.

Depois de expor um inquietante motivo, “A Noite Amarela” dá um salto para uma cena urbana, um embate entre turmas. A sequência parece mais uma digressão ou um tapa-buraco narrativo, mas ajuda a esclarecer o comportamento de cada personagem e anuncia as ideias de separação, de repetição e de duplicação que guiam a bem-sucedida última parte.

Ali, Mota desafia a tradição sanguinolenta do terror contemporâneo para explorar as potencialidades cinematográficas de um gênero multidimensional. A escuridão e o fora de campo tornam-se os principais meios para o filme sugerir, em vez de mostrar. O “split-screen”, recurso que permite compartimentar a tela, aproxima real e sobrenatural, verdade e alucinações.

Sem sustos, mas com muito domínio de poucos recursos, “A Noite Amarela” coloca o nome de Ramon Porto Mota na lista dos jovens cineastas a seguir.

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