Nada menos que 11 novas exposições ocupam o Museu Afro Brasil, no parque Ibirapuera, nas comemorações deste Dia da Consciência Negra. O número corresponde ao total de mostras inauguradas pela instituição ao longo de todo o ano passado.
Não faltam motivos, porém, para essa avalanche. Além do feriado de 20 de novembro, que tem um significado especial para um museu que busca mapear a influência africana na gênese da sociedade brasileira, o Afro Brasil ainda completou 15 anos no último dia 23 de outubro.
Mesmo assim, Emanoel Araujo, fundador e diretor do museu, diz que a quantidade de mostras é consequência da amplitude do espaço, de 11 mil metros quadrados. Como não havia nenhuma grande mostra coletiva, o lugar foi ocupado por uma série de individuais.
De fato, a maioria das exposições abertas agora é formada por cerca de 20 obras.
As exceções são uma coleção de arte tribal, as pinturas do baiano Élvio Rocha e uma retrospectiva do pintor paraibano João Câmara.
A última marca o retorno do artista a um museu paulista depois de 40 anos, segundo Araujo, e exibe um conjunto de 51 pinturas e litografias produzidas entre os anos 1960 e 1980 —uma outra mostra, aberta em julho no Museu do Estado de Pernambuco, reuniu trabalhos mais recentes do artista.
Em suas telas, aparecem cabeças sem corpo, pernas a mais e toda sorte de deformações corporais, num humor surreal que muitas vezes desvia para o comentário político. É o caso de “Viável Disparate”, em que um bebê impávido equilibra sobre a cabeça a máscara de um general.
Câmara também é um dos poucos artista brancos a protagonizar essas aberturas.
Questionado sobre essa presença, Araujo responde que “branco ninguém é”.
Mas acrescenta que, apesar do “Afro Brasil” do título, o museu busca ser acima de tudo um espaço da diversidade, onde “as pessoas possam ter uma visão ampla dos nossos tentáculos”. “Não é um museu de gueto. Também é de latinos, de africanos, de nordestinos.”
Diversidade é uma boa palavra para descrever as outras dez mostras do feriado.
O trajeto começa com uma reflexão sobre a escravidão a partir de uma instalação de Araujo que rememora os 150 anos do poema “O Navio Negreiro”, de Castro Alves, e 12 litogravuras do alemão Johan Moritz Rugendas do século 19, recém-doadas ao museu.
Depois, passa por fotografias de Bispo do Rosário realizadas por Walter Firmo em 1985 e pelas referências à arte primitiva dos beninenses Alphonse Yémadjè e Euloge Glélé.
Enfim, termina com trabalhos de três artistas contemporâneos, Anderson AC, Paulo Pereira e Rommulo Conceição.
As muitas inaugurações acontecem sete meses depois de o museu anunciar a possibilidade de fechar, devido a um contingenciamento de cerca de 20% do orçamento da Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa.
Araujo afirma que o contingenciamento conseguiu ser renegociado, mas mesmo assim oito funcionários foram demitidos. Hoje, diz, eles tratam com a secretaria para ampliar de novo a equipe.
“Nosso orçamento anual é de cerca de R$ 9 milhões e pouco, mas o museu é maior do que a Pinacoteca, do que o Masp.”
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