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'Bishop habita nossa lista há muito tempo', diz organizador da Flip

Poeta americana foi anunciada como autora homenageada do evento durante leitura dramática

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São Paulo

No palco do Itaú Cultural, em São Paulo, um telão exibe a foto de uma árvore cercada por folhas e uma mata fechada. No áudio, sons de passarinhos e insetos dão ao centro cultural um ar de mata atlântica hi-tec. À frente da tela, três cadeiras e três mulheres sentadas.

A atriz Maria Manoella, então, lê um relato sobre a chegada da narradora ao Brasil. Ela é seguida pela jornalista e colaboradora da Folha Marilene Felinto, que narra como essa autora teve uma alergia no Rio de Janeiro em 1952, muito provavelmente por causa de um caju. Flora Thomson-Deveaux termina a primeira rodada de leitura com uma carta em que essa mesma narradora descreve a paisagem de Petrópolis, na serra fluminense, época em que recebeu um tucano de aniversário, batizado de Tio Sam.

Em pouco mais de 20 minutos, Felinto ainda declama o poema "Cadela Rosada" e surgem textos sobre temas como o Carnaval, a construção de Brasília, a inflação e o dia em que Manuel Bandeira saiu de seu apartamento vestindo pijama e chinelos para abrir a porta do prédio para a narradora. Só então foi divulgado que a autora de todos esses relatos é a poeta americana Elizabeth Bishop e que ela é a escritora homenageada da próxima Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty.

Essa foi a primeira vez que o anúncio do homenageado do festival foi feito dessa forma. O encontro foi transmitido ao vivo nas páginas do Facebook da Flip e do Itaú Cultural, um dos parceiros do evento literário, que chega à 18ª edição em, 2020.

No fim da apresentação, Mauro Munhoz, presidente da Casa Azul, que organiza a Flip, subiu ao palco. "Bishop habita nossa lista [de possíveis homenageados] há muito tempo", justificou. "Ela permite uma reflexão sobre a posição do Brasil no mundo."

A curadora da programação, Fernanda Diamant, também falou sobre a escritora americana e a opção do evento por ela. Bishop morou no Brasil, em temporadas no Rio de Janeiro, em Petrópolis (RJ) e em Ouro Preto (MG), entre 1951 e 1971.

"É uma grande poeta, uma das maiores do século 20. Bishop tem uma relação muito crítica, mas ao mesmo tempo muito apaixonada, com o Brasil", disse Diamant.

Ao permitir que a plateia fizesse perguntas, dois assuntos principais vieram à tona: a escolha por uma estrangeira homenageada pela primeira vez desde que a Flip existe e a preocupação do festival em manter a diversidade na programação.

Sobre o primeiro ponto, Diamant disse que ficou tensa com a divulgação da escolha. "Porque foi uma ousadia, uma novidade, uma coisa não prevista. Mas estou muito feliz também. Porque quis mostrar essa relação dela com o Brasil", contou.

"Oswald de Andrade disse que a arte brasileira é a arte feita no Brasil", completou Munhoz, referindo-se aos poemas e cartas escritos por Bishop no país. Segundo ele, a Flip do próximo ano buscará discutir o que é arte brasileira.

Sobre diversidade, o presidente da Casa Azul afirmou que essa é uma prioridade.

"Estamos em um momento muito forte de combate à homofobia, e isso estará na pauta", contou Diamant, lembrando o relacionamento que Bishop teve no Brasil com a arquiteta Lota de Macedo Soares.

A Flip está marcada para ocorrer entre os dias 29 de julho e 2 de agosto do próximo ano.

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