Como Lizzo se tornou a grande aposta do Grammy 2020 com música de dois anos atrás

Cantora, rapper e flautista tocou com Prince, mas só chegou às paradas de sucesso com seu terceiro disco, 'Cuz I Love You'

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São Paulo

Lizzo lançou “Truth Hurts” em 2017. O hit da rapper e cantora de R&B americana, contudo, concorre a três categorias no Grammy 2020.

Apesar de ter saído fora do período de elegibilidade, a Academia de Gravação, que concede o prêmio, a considerou porque a música foi relançada neste ano, na versão deluxe de “Cuz I Love You”. Mas não foi o relançamento que fez a canção a se tornar a mais ouvida nos Estados Unidos durante sete semanas.

“Truth Hurts” só virou hit quando chegou ao aplicativo de vídeos TikTok. O público se apaixonou pelo verso “I just took a DNA test, turns out I’m 100% that bitch” (“fiz um exame de DNA e deu que sou 100% aquela vadia”).

Lizzo é a artista com mais indicações ao Grammy, oito no total. Aos 31 anos e no terceiro disco, concorre ainda como artista revelação, sendo esta a primeira vez que ela é notada pela premiação.

A situação é curiosa, mas espelha a carreira de Lizzo. Assim como “Truth Hurts”, que demorou dois anos para estourar, a cantora só chegou a uma grande gravadora depois de cinco anos de carreira solo.

Lançado em abril, “Cuz I Love You” é um retrato completo das ideias e das influências de Lizzo. Ela passeia por funk, soul, disco, R&B e hip-hop, tudo sob um guarda-chuva de música pop tecnicamente bem executada.

Lizzo pode soltar a voz numa balada estilo Amy Winehouse (“Jerome”) ou fazer inveja a Bruno Mars em faixas dançantes como “Juice”. Ela também é habilidosa nas rimas, tratando de machismo, gordofobia e situações cotidianas com senso de humor.

A cartilha variada se reflete nas indicações ao Grammy. Enquanto “Truth Hurts” concorre a prêmios gerais e de música pop, “Exactly How I Feel” disputa a melhor performance de R&B e “Jerome”, a melhor performance de R&B tradicional.

Reflete também a formação da artista, cujo nome original é Melissa Jefferson. Antes de sair em carreira solo, a cantora de Detroit se formou na Universidade de Houston, no Texas, estudando música clássica.

Ela é especialista em flauta, instrumento que toca desde a adolescência, quando integrava a banda da escola.

Depois de formada, Lizzo se mudou para Minneapolis, cidade de uma de suas maiores influências, Prince. Em 2014, a flautista chegou inclusive a participar de um disco do cantor, “Plectrumelectrum”, gravado com a banda 3rdeyegirl —só com mulheres.

A cantora e rapper Lizzo durante performance no MTV Video Music Awards 2019, em New Jersey, nos Estados Unidos - AFP

O rap foi sua porta de entrada na composição. Em 2015, com “My Skin” —de seu segundo disco, “Big Grrrl Small World”—, Lizzo cristalizou a identidade pela qual é conhecida hoje.

“As pessoas ficaram chocadas que, em 2015, essa garota negra grandona estava dizendo que se amava e que estava apaixonada pela própria pele”, Lizzo disse, em entrevista ao New York Times. “Eu fiquei pensando: ‘Por que é surpreendente para vocês?’ Vou cantar sobre isso o tempo inteiro até vocês se acostumarem.”

Da imensa lista de músicos que ganharam destaque tratando de autoestima, Lizzo tem algumas vantagens com o Grammy. É musicista, impressionando tanto pela criatividade quanto pela entrega.
E, principalmente, faz com que sua confiança exacerbada não soe apenas como discurso externo, mas algo que ela parece carregar consigo até nos momentos mais íntimos.

Exaltada na lista de indicados, ela dificilmente vai sair da premiação de mãos vazias. Com figuras tarimbadas como Taylor Swift fora das principais categorias, Lizzo desponta como a principal aposta do Grammy em uma renovação da estrela pop americana.

E, pelo menos este ano, Lizzo teve tudo —técnica, carisma, hits, discurso confiante e o tão desejado apelo com a juventude, cada vez mais responsável pelos fenômenos de streaming e das novas redes sociais.

TRÊS FACES DE LIZZO

‘Truth Hurts’
Sua música mais importante é um rap em que ela diz algumas ‘verdades’ sobre os homens

'Jerome’
Balada triste mas libertadora e bem-humorada em que Lizzo assume a responsabilidade de terminar um relacionamento

‘Juice’
Hit dançante e retrô que tem a cara dos últimos trabalhos de Bruno Mars, mas com o carisma e a desenvoltura de Lizzo

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