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Festival de Brasília começa com vaias ao secretário de Cultura do DF

Ator que invadiu o palco para ler uma carta contra o órgão teve microfone desligado e quase foi expulso por segurança

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Brasília

O discurso do secretário de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Adão Cândido, mal pôde ser ouvido tantas eram as vaias da plateia na abertura do Festival de Brasília, no Cine Brasília, nesta sexta (22).

Os cerca de sete minutos de sua fala foram abafados por um coro de “Fora Adão!” e “Cadê o FAC?”, em referência a um edital do Fundo de Apoio à Cultura do ano passado, no valor de R$ 25 milhões, cancelado pela secretaria em maio deste ano.

Depois de agradecer aos patrocinadores do evento, Cândido reagiu às vaias. “Vocês estão simplesmente sabotando o maior evento cultural da cidade. Essa atitude é contra o cinema”, disse.

Pouco antes do início da sessão, o ator Marcelo Pelucio ainda roubou o microfone para ler uma carta do Movimento Cultural do Distrito Federal, que reúne diversas entidades artísticas.

Além de criticar a suspensão do fundo, que não teve o edital Áreas Culturais —voltado para categorias como artes plásticas, música e teatro— lançado este ano, o documento ainda cita o não cumprimento de alguns aspectos da Lei Orgânica de Cultura (LOC), como um artigo que obrigaria a publicação do superávit do ano anterior no mês de janeiro.

Em nota, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal informa que lançou três editais do FAC, que somam R$ 18,2 milhões e contemplam atividades em equipamentos públicos, valorização de regiões menos favorecidas e a realização do carnaval no ano que vem.

O órgão ainda ressaltou que anunciou a dotação de R$ 20 milhões para o edital FAC Audiovisual 2020. Por fim, afirmou que realizou este ano o maior aporte direto no Festival de Brasília da história, no valor de R$ 3,3 milhões.

Um segurança tentou impedir Pelucio de continuar a ler a carta, e o som de seu microfone foi cortado na metade do discurso. A plateia reagiu com gritos de "censura".

A Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo, que homenageou a documentarista Débora Diniz na cerimônia, também mencionou a suspensão do fundo em seu discurso. E o ator homenageado, Stepan Nercessian, fez referência aos tempos difíceis que a cultura enfrenta hoje no país, com uma série de episódios de censura protagonizados pelo governo federal.

“Se o cinema foi feito de resistência, esse festival também”, disse o ator. "Passamos por momentos horrorosos, terríveis, e não pensem que eles desaparecerão do mapa. Mas vamos continuar. O cinema resistiu, resiste e resistirá.”

A cerimônia de abertura teve exibição de "O Traidor", do italiano Marco Bellocchio. O longa, que teve aplausos de 13 minutos no Festival de Cannes este ano, acompanha a trajetória do mafioso Tommaso Buscetta que, fugindo de seus comparsas da máfia siciliana Cosa Nostra, se refugiou no Brasil. O gângster foi um dos mais famosos "arrependidos", que colaboraram com a Justiça italiana delatando seus comparsas.

"O Traidor" é exibido fora de competição, assim como "Boca de Ouro", adaptação de Daniel Filho para a peça de Nelson Rodrigues sobre um bicheiro, e o documentário "Giocondo Dias - Ilustre Clandestino", sobre um militante da esquerda que passou dois terços de sua vida na clandestinidade.

Sete longas concorrem ao principal prêmio, o Candango. Destes, os mais aguardados são "Piedade", de Cláudio Assis, que traz Fernanda Montenegro, Irandhir Santos e Cauã Reymond (no papel de um homossexual) lutando contra o empresariado numa praia atacada por tubarões, e "A Febre", de Maya Da-Rin, cujo ator principal, indígena, conquistou o prêmio de melhor ator no Festival de Locarno, na Suíça, em agosto deste ano.

Vale lembrar que três dos quatro longas de Assis ganharam o Candango em edições anteriores.

Além deles, concorrem as ficções "Alice Júnior", de Gil Baroni, "Loop", de Bruno Bini, e "Volume Morto", de Kauê Telloli, além dos documentários "O Tempo que Resta", de Thaís Borges e "O Mês que Não Terminou", de Francisco Bosco e Raul Mourão.

A premiação está marcada para o próximo sábado, dia 30, um dia antes do término do evento.

A jornalista viajou a convite do Festival de Brasília

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