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Filme sobre vício é exibido na cracolândia antes de chegar às salas de cinema em SP

De volta às ruas, ex-moradores de hotel social estão no documentário 'Diz a Ela que Me Viu Chorar'

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São Paulo

“Vai chegar o cinema?”, questionou um. “Vocês podiam pôr um telão e mostrar o filme aí para nós”, gritou outro, enquanto crescia o furor em torno das pessoas que armariam uma projeção improvisada de “Diz a Ela que Me Viu Chorar” na cracolândia, centro de São Paulo. 

É que, afinal, “a história é sobre nós”. Para fazer o documentário, a diretora Maíra Bühler acompanhou por seis meses em 2016 a rotina de um grupo que tentava se livrar do vício no hotel social Parque Dom Pedro, ali perto. 

A moradia era parte do programa municipal Braços Abertos, criado pelo ex-prefeito Fernando Haddad. A gestão concedia bolsas e vagas nos hotéis em troca de serviços, sem exigir abstinência dos usuários.
O lugar foi fechado assim que João Doria assumiu a prefeitura, quatro meses depois do fim das filmagens.

O tucano, que chamava a iniciativa de “bolsa crack”, pôs em seu lugar o Redenção, centrado na internação.

Doria chegou a afirmar que a cracolândia tinha acabado, mas, longe disso, no dia 12 de novembro, ela assistia à “sessão nostalgia”, irrompida por pequenas caixas de som que circulavam junto aos que iam e vinham no fluxo, ouvindo funk carioca.

“Foi um tempo bom. A gente morava lá no prédio”, diz Cristina, 50, enquanto chora sentada no chão, de olho na tela na qual protagoniza brigas e afetos com o marido. Agora, o casal ergue uma barraquinha na rua —a mesma do edifício que guarda tantas lembranças. Grande parte dos que viviam no hotel social voltaram para as ruas com o fim do equipamento.

Outra ansiosa espectadora era Talita, 35. “Não vi ainda, estou com medo.” Seu ponto fraco não é o crack, mas o álcool. A mulher chega a virar uma garrafa inteira de cachaça num gole. Já ficou internada, mas vive tendo recaídas.

Quem também fez parte da história que agora chega aos cinemas foi Kátia, 41, que se sentiu um pouco atriz. “É o que nós passou, conviveu. Dá saudade”, diz ela, que agora reveza madrugadas entre abrigos e o relento. Kátia está há nove dias sem o crack.

Diz a Ela que Me Viu Chorar

  • Quando Em cartaz
  • Classificação 16 anos
  • Produção Brasil, 2018
  • Direção Maíra Bühler
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