Descrição de chapéu

Foi surpreendente ver a comunicação entre Patti Smith e a jovem plateia

Repertório misturou canções escritas pela cantora e alguns covers

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Patti Smith

  • Onde Popload Festival

Tudo bem que a escalação do Popload Festival tinha nomes para atrair a garotada, como Hot Chip e Tove Lo, até mesmo The Raconteurs. Mas foi surpreendente ver a comunicação direta entre a veterana Patti Smith e uma plateia muito jovem, que encarou horas debaixo de um céu ameaçador de chuva na sexta-feira (15) para ver a cantora americana que encerrou o festival.

Foi bem diferente de shows de outros roqueiros setentões no Brasil, como os Stones ou Paul McCartney, nos quais a plateia é predominantemente madura. Os cerca de 15 mil espectadores no Memorial da América Latina eram na maioria menores de 30 anos.

A força da poesia e das atitudes de Patti Smith, 72, fica evidente quando meninos que têm idade para serem seus netos cantam juntos todos os versos de canções que, mesmo sendo hinos do rock, não são exatamente sucessos populares. Por exemplo, “Pissing in a River”.

 

A plateia tinha mais meninas, ou pelo menos essas respondiam com muito mais entusiasmo do que os rapazes à apresentação de Patti. Gritos histéricos de elogio à cantora, incluindo vários pedidos de casamento berrados ao vento, formavam a recepção calorosa.

O repertório, como costuma acontecer nos shows dela, misturou canções escritas pela cantora e alguns covers. Era uma aposta certa que "After the Gold Rush", clássico de Neil Young, estaria entre as escolhidas. Patti vem cantando esta em todos os shows nos últimos tempos. E ela acabou errando a letra logo no primeiro verso e teve de recomeçar, recebendo apoio carinhoso do público.

As versões para músicas de outros compositores contemplaram também “Beds Are Burning”, da banda australiana Midnight Oil, com introdução falando das queimadas na Amazônia.

“I’m Free”, hit antigo dos Stones, veio com vocal do guitarrista Lenny Kaye, junto com “Walk on the Side”, de Lou Reed, na voz do baixista Tony Shanahan

Entre as canções próprias, ela ofereceu itens antigos, como “Dancing Barefoot” e “Ghost Dance”, ao lado de uma mais recente, “Beneath the Southern Cross”. E o público parecia receber as canções de qualquer safra com a mesma empolgação.

Simpática ao extremo, Patti demonstrou estar muito feliz no palco, em sua segunda passagem pelo Brasil, mas a primeira em São Paulo. Em 2006, no Tim Festival, ela se apresentou no Rio e em Curitiba. Ela tem um segundo show beneficente marcado em São Paulo, neste sábado (16), para uma plateia menor, no auditório Simón Bolívar, no próprio Memorial da América Latina.

Para fãs de qualquer idade, foi a chance rara de ver uma artista que equilibra delicadeza e fúria em suas canções. Na maior parte do tempo, Patti se move com leveza e discrição no palco, mas ainda assume poses agressivas nos momentos mais acelerados de seus rocks.

Para os fãs cinquentões, é algo especial ver no palco três integrantes do Patti Smith Group, o quinteto que gravou nos anos 1970 quatro discos seguidos de uma importância monstruosa na história do rock.

O guitarrista Lenny Kaye e o baterista Jay Dee Daugherty participaram de "Horses" (1975), "Radio Ethiopia" (1976), "Easter (1978) e “Wave" (1979), álbuns que forneceram mais da metade do repertório apresentado no show. Cada um em seu instrumento, os dois precisam entrar em qualquer lista do melhores do gênero em todos os tempos. 

Embora seja famosa por montar roteiros de shows com surpresas, às vezes resgatando canções menos conhecidas de seu repertório, Patti caprichou na entrega aos fãs brasileiros.

Abriu com “People Have the Power”, seu videoclipe mais veiculado na rede. Na parte final, incluiu "Because the Night", uma parceria com Bruce Springsteen que é seu maior hit na carreira, e encerrou com uma versão furiosa e apoteótica de "Gloria", cover de Van Morrison que ela gravou em "Horses" e praticamente tomou para si quase como uma canção própria.

Ao fim do show, a satisfação da plateia era inegável. E, ao que parece, também a satisfação de Patti Smith, que se mostrou uma lenda do rock ainda cheia de energia e encantamento. Terminou gritando: “Sejam fortes! Sejam saudáveis! Sejam livres!”. ​

 
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.